quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Re (VENDO) o amor - Impressões de ouvinte

Esse texto é para comentar esse disco. Já faz um tempinho que não sento minha bunda para ouvir um álbum inteiro. Na última terça-feira (ontem, dia 04 de Novembro), eu sentei para ouvir dois álbuns. Um deles é este: Vendo amor: em suas mais variadas formas, tamanhos e posições. 

Foi produzido em 2011 pela Coqueiro Verde Records. O Canal Brasil disponibilizou, no programa Faixa Musical, a apresentação musical do disco. Esse álbum não é só musical, é também visual, há textos que são recitados pelo, músico e ator, Alexandre Nero. 

Há uma reflexão sobre as várias formas de amor e uma revisitação de músicas com a mesma temática, canções contemporâneas ("Boa pessoa", primeira faixa do disco) e músicas clássicas ("Carinhoso", faixa 12/ "Não aprendi dizer adeus", faixa 9). A ideia do disco é o amor como uma mercadoria, facilmente comprável. Por isso, ao comprar o disco, também está comprando amor, esse sentimento afeta os produtos do mercado, do carro e etc. Está presente na faixa que nomeia o disco (Vendo à vista, faixa 3)

Não se compra mais um simples carro. O que é consumido é a sensação de plenitude e prazer. O sujeito compra um automóvel para satisfazer essa carência de sentir amor, de amar o outro. Muito mais do que ser amado, porque isso é para quem não tem coragem de entregar-se ao abismo, é o egoísmo velado. Amar é muito mais do que amar um objeto. Ao dizer, eu te amo, esse sentimento é, na realidade, um amor incondicional à vida, à humanidade e ao acaso. 

O amor é a palavra mais suja na História Ocidental, sempre é designado outras palavras, como acontece também com a palavra poesia. Amar é sacrifício, dor, medo, sangue e guerra. Essa noção de amor está presente na fundação da humanidade, está presente em Tristão e Isolda. Está presente em Romeu e Julieta. É o que moveu os ânimos dos românticos e os espíritos burgueses na criação da monogamia, casamento e fidelidade e no controle das práticas sexuais. Amar com prazer é outra coisa, pouco se ensina a amar através do choque de intimidades, do choque de diferenças.  O disco é um elogio as diferenças musicais e ao amor que ama a diferença, que não humilha e anula o outro em nome de mais poder. 

"Domingos" (faixa 5) é uma canção que homenageia um filme chamado Separações. É uma carta que felicita a união de pessoas estranhamente íntimas, é uma ode ao amor da amizade, do prazer sexual. Essa canção vem logo depois da música "Cuecas e Calcinhas" (faixa 4) que também relata uma visão do amor através da paisagem do tempo, do envelhecimento e de um futuro. Sem dúvida, concordo com Alexandre Nero e com Domingos, a melhor declaração de amor é falar ao Outro-Estranho: "vamos fuder o dia inteiro". Outra canção que valoriza a sexualidade no amor "Saia" (faixa 8). 

O álbum é corajoso, porque é um assunto amplo que atravessa a humanidade. A sociedade se organiza através dos relacionamentos, é possível perceber a organizações sociais e a ideologia através dos relacionamentos amorosos. Aliás, sempre tive essa desconfiança, o amor é a mercadoria mais abstrata nas relações das pessoas, há o discurso oficial em torno do amor, religioso e revolucionário. No quadrinho V de Vingança, a personagem diz que não adianta nada fazer uma revolução sem dança. Seguindo essa proposta, eu digo que falar de amor é o vício dos poetas e dos malditos, não adianta nada fazer a revolução sem falar de amor. Principalmente, para as mulheres, o amor sempre foi o seu maior carrasco. 

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