Direção: Luc Besson
Nacionalidade: França
Duração: 1h29min
Elenco: Scarlett Johasson, Morgan Freeman, Ming-Sin Choi, Amr Waked, Pilou Asbaek e etc.
Uma pessoa usa 10% de sua capacidade cerebral, imagine se uma pessoa usasse 100%? O que poderia acontecer? Esse filme usa isso como a preposição fundamental para orientar o enredo. O filme, inicialmente, possui dois momentos paralelos. Uma palestra com Professor Norman (Morgan Freeman), explicando detalhes da tese, que ele trabalhou por 20 anos, sobre o desenvolvimento cerebral dos seres humanos até 20%. E uma discussão entre dois jovens na frente de um edifício empresarial, Richard (Pilou Asbaek) obriga Lucy (Scarlett Joahsson) entregar drogas para uma máfia coreana. Richard é assassinado na frente do edifício. Lucy é obrigada a traficar drogas dentro do estômago.
Essa droga não possui um efeito comum de outras drogas. Ao ser absorvida, ela promove a mesma energia do nascimento, aumentando as conexões do cérebro e, portanto, subindo a capacidade cerebral. Lucy deixa de ser uma mulher inocente, que frequentava balada e tinha algumas bebedeiras, para se transformar numa heroína durona e incapaz de sentir medo. É uma mistura de Nikita, Kill Bill e outras mulheres fantásticas do cinema. Com o resto meigo e angelical da atriz Scarlett Johasson, a heroína é capaz de fazer atos inimagináveis, sangrentos e apáticos. Até risíveis. Ela vira uma assassina sagaz, uma super intelectual capaz de alcançar conhecimentos com rapidez e precisão, uma mutante poderosa ( tipo filmes do X-men) e etc. Lucy é uma mistura de vários heróis.
O que chama atenção do filme. É a arrogância da modernidade, de colocar o homem no centro do universo. Uma valorização estupenda do indivíduo em relação ao coletivo. Uma mente, complemente desenvolvida, é capaz de transformar a realidade. Entender o conhecimento da via láctea e do planeta acumulado por bilhões e bilhões de anos, viajar no tempo e no espaço, enganar o tempo e a morte, não sentir medo, paixões e afetações. É uma mulher capaz de ter as mesmas possibilidades da natureza. Ela cria, não é constrangida por ninguém e por nada.
De certa maneira, é uma valorização e uma ode ao deus do liberalismo, a abstração da ética. Uma pessoa, completamente livre, é capaz de realizar qualquer coisa sem obstáculo ou impedimento moral. A natureza é completamente livre, ela não age de acordo com as leis dos homens, não tem religião, não tem moral, não escolhe quem vai morrer por conta da economia. Não é possível negociar com a natureza, a transformação dela envolve morte, às vezes, de alguns seres humanos. E o desenvolvimento da humanidade e da tecnologia envolve morte e destruição da natureza. Não é possível um acordo entre essas partes. Ou é um, ou é outro.
Lucy é uma figura de oposição radical ao povo. O destino dela é desaparecer no final do filme. Deixando nas mãos dos cientistas, o conhecimento que acumulou na experiência de viver uma vida completamente livre dos anseios e temores de uma consciência humana primitiva. O legado dela é compilado em um simples pen drive. Assim, fazendo-se desaparecer, transformando-se em matéria.
Destaque para cena que Lucy faz uma ligação para mãe. Dizendo que se lembra de tudo, de todos os beijos que ela recebeu da mãe quando era bebê, do gosto do leite materno, do pelo macio do gato que ela sentia próximo (essa era uma memória da infância muito remota). A mãe fica surpreendida, dizendo que essas lembranças não poderiam ser imagináveis. Lucy não sente nenhum constrangimento pela autoridade maternal, é uma corpo que se sustenta por si mesmo, não necessidade de nada além de si.
Também vou destacar uma fala dessa heroína. Quando Lucy ameaça o chefe da máfia (Ming-Sin Choi): "o processo de aprendizagem é doloroso. Imagine os ossos crescendo no seu corpo. Eu sou capaz de lembrar o barulho dos ossos, é dolorido. Antes eu ficava pensando quem sou eu, o que eu vim fazer aqui. Não sabia que o que me caracterizava humana, era justamente o que me fazia primitiva". Lucy tinha cravado duas facas nas mãos do chefe da máfia, enquanto dizia: "você, por exemplo, você não é nada mais além do que a dor que está sentido nas mãos".
É um filme de ficção científica, que particularmente, possui enredo bem simples. Ideias criticáveis. Entretanto, foi bem feito. Eu gostei. Existem momentos que, realmente, são bem bonitos no filme. As duas cenas, que eu destaquei, merecem um elogio. Me parece, às vezes, a sensação que eu tenho de alguns católicos. Jesus Cristo, para os cristãos, era um ser humano que tinha uma consciência iluminada e era oposta a qualquer um, ele morreu, foi crucificado e ressuscitou. O que ele deixou? Os ensinamos orais deles escritos por outros apóstolos no Antigo Testamento. Depois de todo esse conhecimento, Jesus morre e diz: "toma, agora é a vez de vocês". Lucy faz a mesma coisa, copila todo o conhecimento acumulado e diz: "toma, cientistas, agora vocês têm que ver o que farão com esse conhecimento todo". Obviamente, como tudo pode ser interpretado, pode ter milhares de explicações do universo e gerar centenas de possibilidades de conflito. Um outro filme interessante seria ver o que os cientistas fizeram depois de Lucy.
uma observação irônica: "não basta a pessoa ser Scarlett Johasson. A pessoa tem que ter a capacidade cerebral de 100%. A humanidade não suportaria. É muita apelação".
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