Eu
ando respirando com dificuldade. Não é mais oxigênio que está no meu corpo, é
um outro tipo de ar que respiro. Não, também não é o monóxido de carbono que me
acostumei a respirar, essa cidade fede e estou acostumada com seu cheiro. Ar
seco, vento cortante. O ar que não consigo botar pra dentro e pra fora é outro,
tem outro nome. Nome que não consigo nomear.
Na
minha frente, dois homens queimando um. Atrás de mim, um fotógrafo bonito.
(Preciso comprar o presente pra minha tia, o aniversário dela é amanhã). É um
ar só meu, acho que é o efeito egoísta que aprendi nas escolas. Estou sim,
sendo a pessoa que me ensinaram ser. Ser mais eu e só eu, os outros não me
importo, não tenho tempo. Só tenho tempo pra mim.
Passo
numa rua cheia de mendigos, me lembro, então, da frase de um rap: “eu sou o
resto do mundo, eu queria morar numa favela, o meu sonho é morar numa favela”.
Mais ou menos assim ou coisa parecida. Não sei o que eu faço? Eu relato: não seria
um fetiche. Não relato: não seria omissão. Isso tudo não é os efeitos do que a
gente escolheu (ou que escolheram pra gente e não opinaram se a gente também
queria?).
Esse
ar está difícil. É um ar que pesa. Ninguém te olha, todos estão em si. Talvez,
respirando o mesmo ar grosso e sem nome que nos rodeia. Um ar que está no
limiar do ser humano, não gostamos de sentir, nem sabemos se isso é ar ou se é
sinal de morte na vida. Por quanto tempo
uma pessoa vive sem respirar? Não
consigo dizer que limiar é esse. Isso não ajuda, ainda continuo respirando
difícil. Dizer que é um ar incognoscível não ajuda compreender e explicar a
natureza desse elemento natural. Poderia perguntar: o quanto de natural eu fui
ensinada a não respirar? O contrário também valeria: o quanto de banal esse ar
pesado e inominável estava em mim e no meu cotidiano, mas não percebia
respirar?
Dou
voltas pela cidade. Perambulo... Perambulo... Penso em contos, penso em Arte,
penso em sonhos. Rio comigo mesma, sou cruel com o meu consciente. Um velhinho
me paquera, eu nem respondo, finjo que nem ouvi...Perambulo...Perambulo... O ar
me pesa, faz parte de minha identidade, quero longe de mim, mas não consigo. O
ar é mais forte, meu corpo apreende ele como sangue. Meu cérebro foi oxigenado
por esse novo elemento. Não, o ar é meu, mas também é nosso.
Perambulo.
Desisto de escrever sobre tudo, canso de respirar, tampo a respiração. Não
adianta, o ar é todo manipulado por meu corpo. O corpo é tão eu quanto a mim.
Desisto de pensar na definição disso, não faço mais Arte de banalidades. De que
adianta a Arte se o ar oxigena todo o meu sangue? De que adianta a poesia se
ninguém respira direito? Eu não respiro, eu finjo que respiro para sobreviver.
Perambulo...
Perambulo....
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