quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Coisas sobre estar sozinho

As perguntas que eu escuto


Deixa eu tentar um rascunho. Queria explicar pra você, como é gostoso acordar de bem com alma. Não sei se você iria entender, leitora. Aprendeu desde criança que era importante ter um homem ao seu lado, nunca enfrentou o veneno de sua companhia a sós, nunca enxergou o doce perigo do seu próprio silêncio.
Eu teria que explicar também outras coisas meio clichês. Coisas como a delícia de estar com alguém. Aí! (suspiro longo) Como seria bom acordar e ter um amorzinho do meu lado! Um namoradinho gostoso pra chamar de meu amor. Mas gosto tanto da minha solidão.
Nessas ocasiões de paqueras ou novas amizades. Sempre me perguntam: quem você é?
- eu respondo com raiva, quase sem vontade de responder. Me chamam de Pequena, quando criança eu era a garota que conversava com o vento. Só converso com o olhar, (e divido a vida através do silêncio), não com a boca. Quem é experto, percebe rápido a minha habilidade de debochar com a minha respiração.
Sempre me perguntam: qual é o seu estilo de música favorita?
- Eu dou uma gargalhada. As pessoas se assustam com a minha risada alta. Eu respondo: eu gosto do som do riso.
Sempre me explicam coisas sobre o ar, a terra e Deus. Sondam se eu tenho religião, digo: deixa o Deus em paz, a Terra é dos homens. 
Sempre me perguntam: você é uma garota tão bonita, por que não tem namorado?
- Sabe pra que que serve os meus olhos? Moço, os meus olhos são grandes, servem pra seduzir. Mas eu mato o primeiro que me olhar e roubar o meu coração. Não quero que ninguém rouba nada meu. Eu quero dar, sempre fui uma menina dada, acha que não daria o meu coração se não me pedissem? Aí que vontade de arranjar um amorzinho! Acho que vou arranjar um hoje pra não dormir sozinho. Pode ser você, pode ser qualquer um que quiser ficar comigo, qualquer um que me pedir.
Mas não quero que ninguém perturbe o meu silêncio. Não precisa adivinhar os meus pensamentos, não quero namoro por telepatia, gosto de carne e pele. Posso até dar o segredo do meu corpo, se você não quiser procurá-lo, afinal não tem nada de transcendental. É o corpo que eu tenho, eu luto com ele e enfrento o mundo com os meus dois braços. Tenho sonhos maiores que a minha estatura. Mas o meu corpo não é um sonho, tem dias que eu esqueço de passar fio dental na minha boca e outros que esqueço de depilar as minhas pernas.
Meu querido, olha pra minha boca, ela pode ser sua, mas não suga a minha alma inteira. Deixa ela comigo. Aprendi gostar das minhas loucuras, gosto de saber que dentro dessa confusão inteira tenho capacidade de odiar e amar ao mesmo tempo. Sinto muito prazer em ser humana. Não consigo controlar o meu ódio, mesmo tendo um amor enorme no meu sangue. Sou inteira animal, minhas palavras são aranhas e gozo. Não pense que existe santidade no meu rosto, engano muito bem, mesmo desenganando. Sou uma ótima mentirosa, por isso que as pessoas se apaixonam fácil por mim.
Agora, se, depois disso, você quiser ir embora. Não vou impedir. Guardarei a tua lembrança como um viajante. Talvez, eu guardarei a tua memória em retratos, mas não. Fotos estragam. As pessoas não vão entender, eu também vou ter preguiça pra explicar, mas guardarei a tua lembrança como um segredo. Minha pele sempre saberá o seu nome.
Me perguntam sobre muitas coisas ao meu respeito. Me esqueço de responder, outras eu deixo o silêncio responder por mim. Quando me perguntam coisas complicadas, eu respondo: eu não sei. 

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