Sobrancelhas
atentas. Pensamentos voam. Os traços graves sinalizam um ar de seriedade, não é
exatamente tristeza (também não é alegria). Os olhos quase fechados enxergam o
horizonte, está desconfiado. Ele escuta passos.
Uma moça espia
o velhinho pela vitrine. O velhinho do quadro olha para a moça da vitrine ou só
espera que ela o compre? A moça olha-o embasbacada, pensa, nossa que velhinho
bonitinho, acho que ele sonha um sonho triste... O velhinho está desconfiado
com a moça, percebe: ela não tem dinheiro para comprá-lo. A tristeza vira realidade, a moça bonita da
vitrine vai desaparecendo de sua visão, a alegria vai sumindo, o velhinho se
sente sozinho e sem amigos. Até hoje, ele espera que a moça da vitrine retorne,
só para olhar um sorriso bonito.
As orelhas
atentas, os olhos ainda mais desconfiados, desejam a todo momento que aquela
moça ressurge no meio de tantos os outros. A multidão esconde os rostos, vez ou
outra, uma velhinha grã-fina enxerga o velhinho da vitrine. Mas e a moça? Cadê
ela? O velhinho queria tanto ser amigo dela, não cobraria nenhum juro para
isso.
O velhinho
enturva, os traços entortam. Ele é torto, tão grave. A vitrine o impede de
enxergar o mundo, por isso ele enxerga o mundo tão grave. Até hoje, ele procura
a moça.
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