quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Velhinho da Vitrine



Sobrancelhas atentas. Pensamentos voam. Os traços graves sinalizam um ar de seriedade, não é exatamente tristeza (também não é alegria). Os olhos quase fechados enxergam o horizonte, está desconfiado. Ele escuta passos.
Uma moça espia o velhinho pela vitrine. O velhinho do quadro olha para a moça da vitrine ou só espera que ela o compre? A moça olha-o embasbacada, pensa, nossa que velhinho bonitinho, acho que ele sonha um sonho triste... O velhinho está desconfiado com a moça, percebe: ela não tem dinheiro para comprá-lo.  A tristeza vira realidade, a moça bonita da vitrine vai desaparecendo de sua visão, a alegria vai sumindo, o velhinho se sente sozinho e sem amigos. Até hoje, ele espera que a moça da vitrine retorne, só para olhar um sorriso bonito. 
As orelhas atentas, os olhos ainda mais desconfiados, desejam a todo momento que aquela moça ressurge no meio de tantos os outros. A multidão esconde os rostos, vez ou outra, uma velhinha grã-fina enxerga o velhinho da vitrine. Mas e a moça? Cadê ela? O velhinho queria tanto ser amigo dela, não cobraria nenhum juro para isso.
O velhinho enturva, os traços entortam. Ele é torto, tão grave. A vitrine o impede de enxergar o mundo, por isso ele enxerga o mundo tão grave. Até hoje, ele procura a moça. 

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