quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Beijo na boca

O assunto desta crônica é uma entrevista da atriz Drica Moraes, (ela interpreta uma vilã na novela Império), no programa Irritando Fernanda Young. O programa era uma espécie de Talk Show ao lado de umas esquetes de humor. O objetivo principal era irritar a Fernanda Young, é um desses programas que o entrevistador se revela mais do que o entrevistado. Entretanto, os entrevistados entram na brincadeira de estar nesse programa e é possível ouvir informações interessantes dos convidados. 
Só peguei um trecho da entrevista, está aqui embaixo: 


Nessa entrevista, Drica Moraes fala sobre os relacionamentos amorosos, ela diz que é muito importante ficar sozinha no relacionamento, mas é muito difícil. Acertar essa dose de amar alguém sem precisar submeter é difícil. A distância que é preciso ter para amar uma pessoa. Qual é a distância do amor? Esses é um dos trechos mais bonitos da entrevista, é possível escrever uma poesia.  

A trivialidade principal, que deu origem essa irrelevante crônica, é o assunto que surgiu por causa do quadro Paca, Pouco e Pica. Fernanda Young pergunta para Drica Moraes, se ela se incomoda Paca, Pouco ou Picas com beijos na boca em público. A atriz responde que não, ela adora beijo na boca, "é de parar!". 

Inspirada nesse percepção da realidade, eu pensei sobre beijos na boca. Se eu me incomodava com eles? Percebi que, na realidade, quando olho um casal, hetero ou homossexual, eu sinto inveja de estar naquela situação. Não é exatamente uma questão de parar na rua para olhar beijos na boca, (mesmo havendo cenas de demonstrações públicas bem bonitas mesmo!). O que acontece comigo é sentir inveja mesmo. 

A origem etimológica da palavra inveja é latina, in e videre, significa não ver. Leandro Karnal discute o pecado da inveja como um pecado envergonhado, é um pecado que não sentimos orgulho de sentir, pois, quando há inveja, também existe uma sensação de fracasso enrustido, ou seja, de vazio que não foi preenchido. O Outro mostra não o que é, mas o que não é. Esse choque com essa figura que se opõe, revela a vergonha, ou seja, o que nós não somos diante de Outro, é o melhor modo de percepção e de autoconhecimento. 

O beijo na boca em público é maior sensação de inveja que eu sinto na minha vida. Esses dias, eu fui para faculdade, ia assistir à aula noite. Encontrei três casais distintos, agarrando-se pelos cantos. O primeiro casal era um casal hetero, eles estavam bem tranquilos, não eram beijos furiosos, mas senti inveja da tranquilidade de ver os olhares entre. O segundo casal era gay, dois homens, estavam beijando suavemente a testa do outro, depois, o homem mais alto deu um beijo silencioso como uma despedida, o outro homem parecia muito triste. O terceiro casal era gay, duas mulheres, encontrei nos corredores da faculdade, estavam próximos da biblioteca, deram-se beijos quentes, uma apertava a outra furiosamente. 

Olhei todos os casais no meu caminho, senti remorso imediatamente. Beijo na boca é motivo de inveja pública, por isso, ora é reprimido, ora é liberado, desde que seja um beijo comportado e civilizado. Um beijo que aparenta pessoas de bem. 

Beijos assim são a maior violência ao amor. Tenho dito. 

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