quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A Máquina de Lavar Roupas

Na série de televisão, que passou entre os anos 1980 e 1990, chamada Anos Incríveis, (The Wonder Years), teve reprises depois na TV Cultura, eu cheguei a assistir, quando eu tinha 12 anos, ter assistido esse seriado é uma das coisas que mais me orgulha de existir. Houve muitas coisas marcantes: uma delas a música With a little help of my friends, interpretada por Jonh Cocker. A outra coisa marcante foi um dos episódios. 

O episódio do velho carro do pai de Kevin. Era um carro que estava na família há anos, pertencia a família como um membro, era um objeto individuado com uma história singular. Se eu não me engano, (estou falando de memória, não vou ser tão fiel aos acontecimentos),  era um carro amarelo, não muito atraente, mas já tinha passado por quase todos os acontecimentos importantes da família. Até que o pai de Kevin decide vender o automóvel, a família estava sem dinheiro. 

O seriado era narrado em primeira pessoa. O narrador era o Kevin adulto, contando as suas experiências da infância, puberdade, adolescência e juventude. Me recordo, nesse episódio do carro, que eu chorei muito, quando o carro foi vendido. Foi um dos primeiros episódios que eu vi, mas fui enfeitiçada imediatamente. Kevin é uma criança nessa fase do seriado, ele conta que a despedida do carro foi o mesmo que se despedir de alguém da família. A família ficara reunida, ao lado de um e de outro, como se aquela fosse a oportunidade de todos lembrarem o que significou todos os anos juntos. O carro era quem reunia todos da família, quando o automóvel foi vendido, uma parte de todos também foi embora. Kevin envelheceu um pouquinho nesse episódio. 

Hoje, recordei desse episódio, porque acabou de acontecer algo importante na nossa família. Quando eu cheguei em casa, minha mãe disse:

- filha, aconteceu uma coisa séria!
- eu fiz alguma coisa? ( pensando nas culpas acumuladas no cartório) 
- a sua irmã morreu
- irmã?
- a máquina de lavar roupa 
- sério, mãe?

Ficamos silenciosas. A máquina de lavar roupas tem 23 anos, entre nós duas, há um ano de diferença que nos separa. Ela é o objeto mais antigo da nossa casa, já possui uma existência externa. Quando minha mãe casou com meu pai, a primeira coisa que comprou foi essa máquina de lavar roupa. Aí, meu irmão nasceu, depois eu nasci, depois tivemos cachorros, fizemos uma grande mudança nas nossas vidas, saímos de Santo Amaro e nos mudamos para Santana. A máquina de lavar roupas sempre esteve no nosso lado, nunca nos abandonou. A nossa história morreu um pouquinho hoje. 

- e aí, o que você vai fazer mãe?
- vou tentar levar ela pro médico?
- se acha que tem chance de cura 
- espero que sim, já estamos sem água, agora ficar sem máquina de lavar roupa não dá

Ficamos tristes. Relembrei imediatamente da cena do carro de Anos Incríveis. Hoje, eu envelheci alguns anos. 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Beijo na boca

O assunto desta crônica é uma entrevista da atriz Drica Moraes, (ela interpreta uma vilã na novela Império), no programa Irritando Fernanda Young. O programa era uma espécie de Talk Show ao lado de umas esquetes de humor. O objetivo principal era irritar a Fernanda Young, é um desses programas que o entrevistador se revela mais do que o entrevistado. Entretanto, os entrevistados entram na brincadeira de estar nesse programa e é possível ouvir informações interessantes dos convidados. 
Só peguei um trecho da entrevista, está aqui embaixo: 


Nessa entrevista, Drica Moraes fala sobre os relacionamentos amorosos, ela diz que é muito importante ficar sozinha no relacionamento, mas é muito difícil. Acertar essa dose de amar alguém sem precisar submeter é difícil. A distância que é preciso ter para amar uma pessoa. Qual é a distância do amor? Esses é um dos trechos mais bonitos da entrevista, é possível escrever uma poesia.  

A trivialidade principal, que deu origem essa irrelevante crônica, é o assunto que surgiu por causa do quadro Paca, Pouco e Pica. Fernanda Young pergunta para Drica Moraes, se ela se incomoda Paca, Pouco ou Picas com beijos na boca em público. A atriz responde que não, ela adora beijo na boca, "é de parar!". 

Inspirada nesse percepção da realidade, eu pensei sobre beijos na boca. Se eu me incomodava com eles? Percebi que, na realidade, quando olho um casal, hetero ou homossexual, eu sinto inveja de estar naquela situação. Não é exatamente uma questão de parar na rua para olhar beijos na boca, (mesmo havendo cenas de demonstrações públicas bem bonitas mesmo!). O que acontece comigo é sentir inveja mesmo. 

A origem etimológica da palavra inveja é latina, in e videre, significa não ver. Leandro Karnal discute o pecado da inveja como um pecado envergonhado, é um pecado que não sentimos orgulho de sentir, pois, quando há inveja, também existe uma sensação de fracasso enrustido, ou seja, de vazio que não foi preenchido. O Outro mostra não o que é, mas o que não é. Esse choque com essa figura que se opõe, revela a vergonha, ou seja, o que nós não somos diante de Outro, é o melhor modo de percepção e de autoconhecimento. 

O beijo na boca em público é maior sensação de inveja que eu sinto na minha vida. Esses dias, eu fui para faculdade, ia assistir à aula noite. Encontrei três casais distintos, agarrando-se pelos cantos. O primeiro casal era um casal hetero, eles estavam bem tranquilos, não eram beijos furiosos, mas senti inveja da tranquilidade de ver os olhares entre. O segundo casal era gay, dois homens, estavam beijando suavemente a testa do outro, depois, o homem mais alto deu um beijo silencioso como uma despedida, o outro homem parecia muito triste. O terceiro casal era gay, duas mulheres, encontrei nos corredores da faculdade, estavam próximos da biblioteca, deram-se beijos quentes, uma apertava a outra furiosamente. 

Olhei todos os casais no meu caminho, senti remorso imediatamente. Beijo na boca é motivo de inveja pública, por isso, ora é reprimido, ora é liberado, desde que seja um beijo comportado e civilizado. Um beijo que aparenta pessoas de bem. 

Beijos assim são a maior violência ao amor. Tenho dito. 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Aos meus fumantes queridos

Minha relação com cigarro é passiva. Convivo a maior parte do tempo com fumantes, quando eu sinto que não há cheiro de cigarro do meu lado, eu acho que está faltando alguma coisa no cenário. Nascida em São Paulo, posso dizer que respiro fumaça, é antinatural (ao meu corpo inclusive!) não ver e não sentir alguma massa sólida no ar. A fumaça em São Paulo é palpável. 

Tudo começou quando minha mãe era fumante, ela parou de fumar, quando eu completei seis anos. Desde então, nunca mais senti cheiro de cigarro em casa. Minha mãe nunca mais acendeu um cigarro. (A não ser, quando eu via figuras inesquecíveis, essas imagens masculinas que marcaram a presença da minha casa, eram fumantes). Quando eu era criança, olhava a minha mãe fazendo bolinhas com a fumaça que saía da boca. Imaginava na minha cabeça que aquilo era uma espécie de bolinhas de espuma para adultos. A imagem da minha mãe agachada e fumando silenciosamente na beira do tanque foi muito marcante na minha infância. 

Quando cresci, namorei com dois fumantes. Homens marcantes que falavam muito pouco, quando eles fumavam, parecia que eram o modo deles marcarem presença na minha vida. O silêncio era melhor maneira, que nós tínhamos (eu e esses namorados), de comunicação. A fumaça sempre acompanhou esse diálogo mudo. 

Ao mesmo tempo, houve uma política mais agressiva de impedir fumantes no espaço público, a fumaça tornou-se incômoda para todos. Imagens assustadoras de mortes prematuras de bebês, impotência sexual masculina, mortes e mais mortes etc. Essa publicidade negativa do cigarro teve o efeito esperado, a minha geração de jovens diminuiu drasticamente o número de fumantes. Eu mesmo, nascida num ambiente excessivo de informação, fui muito afetada, entendi que a variável mais importante para essas doenças era o cigarro.

(o que é mesmo! Poréns...) 

Meus melhores amigos são fumantes e muitos dizem: eu posso até ficar sem sexo, mas não fico sem cigarro. A relação, que eles têm com a fumaça, é até religiosa. Acho curioso que, diante de tanta violência, mesmo depois de tanta publicidade negativa, ainda existir um discurso poético para imagem da fumaça que sai da boca dos fumantes. Tenho impressão que, mesmo os escritores que não são fumantes, são apaixonados por essa imagem do fumante desajustado. O cigarro é o símbolo da resistência da poesia. 

Dizem que a boca fala o que o coração está cheio. Do ponto de vista do fumante, a fumaça é religiosa, é cheia de palavras, tranquiliza a sensação de mal estar no mundo. Diante de tantos vícios, o vício do cigarro me parece tão pequeno. Quando eu estou sozinha, não sinto cheiro de cigarro (ou mesmo de maconha), não consigo me sentir em casa, sinto saudades. 




sábado, 25 de outubro de 2014

"Minha literatura é melhor que a sua"

Essa título se refere a um evento bastante presente no nosso cotidiano, a ideia do colonizador de sempre acreditar que a sua cultura é sempre melhor que a cultura do Outro:

"- Ah! eu leio Paulo Coelho
- Ah! Prefiro ler Odisseia"

Não importa discutir, para os objetivos do texto, sobre as diferenças de estrutura literária, (é claro que há textos melhores ou piores na elaboração estrutural!),  o que interessa aqui é o que está oculto nesse diálogo. Pode-se trocar o título ou o autor dos livros, pode-se até colocar bons autores no lugar dos ruins, (ao invés de Paulo Coelho ser Caio Fernando de Abreu, Harry Potter e etc), a frase do interlocutor sempre será essa: " Ah! Eu prefiro ler y a x..". No fundo, o que este está querendo dizer é: "A minha literatura é muito melhor do que a sua". 

O Professor de Literatura é o profissional que precisa seduzir o estudante para oferecer meios e técnicas que faça-o acessar obras literárias que são universais, que atravessaram gerações. Esse professor é quem enfrenta efetivamente a dificuldade de conhecer outros letramentos que não estão presentes na cânone. A cânone não dialoga diretamente com a vida social do estudante contemporâneo. Esse diálogo precisa ser mediado com a figura desse profissional da educação. Assim, ao lado do estudante, dando sentido para obras literárias na vida cotidiana. 

Por que não há interesse nas obras universais? Talvez, por diversos motivos, ou porque a obra, realmente, não dialoga com o mundo do estudante; talvez, porque, na biografia dessa pessoa, houve péssimos professores que não deram meios para acessar a obra literária; talvez, porque, os leitores tenham alguma dificuldade de leitura (o analfabetismo funcional pode influenciar); talvez, porque, não há gosto de leitura, porque não quer se contaminar com textos de outros autores (o que é discutível, afinal é impossível não se contaminar com outros; se isso não é feito através da leitura, será feito de outras maneiras. Contaminar-se é uma atitude humana por excelência). Enfim, os motivos, pela falta de interesse nas obras universais, são vários. A educação é um dos temas relevantes para discutir esse assunto. 

Há um limite híbrido esse de negar alteridade. É possível que um profissional de literatura chega numa sala de aula e no fundo diga: "vocês são idiotas, porque vocês estão lendo esses textos ruins. Vocês estão emburrecendo, porque leem 'Crepúsculo', '50 tons de cinzas" e etc". A leitura afeta as pessoas por diversas razões. E como diria uma professora do fundamental (que eu tive): " para quem está começando a ler, a criar o hábito de leitura, até bula de remédio serve!". 

Entretanto, usando a frase de outro professor de filosofia (que eu tive): "nem sempre lemos aquilo que gostamos, às vezes, a gente tem que ler livros que detestamos". A leitura de um texto, que possivelmente, nos desagrada, é, na realidade, um choque com outro pensamento, uma outra cultura. Esse choque precisa ser oferecido por profissionais da educação, mas não somente por eles. Aprender a ouvir os motivos, que as pessoas levam à ler determinados livros ao invés de outros, é o aprendizado máximo da aceitação das diferenças. Os motivos, da leitura de um livro em vez de outro, não podem ser ignorados, eles se relacionam diretamente com o mundo. 

Italo Calvino diz que os clássicos são aqueles que escolhemos. É claro que essa escolha não é indiferente à sociedade e ao mundo. Escolher ler Shakespeare ao invés de Racine, há um motivo político ou pessoal. Escolher ler Veja ao invés de CartaCapital, há uma atitude política por trás disso. Escolher ler y ao invés de x, há motivos e aprender a ouvir esses motivos é um exercício de respeitar a diversidade. Os estudantes de humanas e profissionais dessa área são os sujeitos que mais desrespeitam a literatura do outro. Nós dizemos categoricamente, sem nem pensar duas vezes: "minha literatura é melhor do que a sua". 

Podemos nos perguntar: "Por que uma pessoa que ler Shakespeare é melhor do que uma pessoa que nunca leu?". Numa cena do filme As meninas, adaptação do romance homônimo de Lygia Fagundes Telles, Lorena (interpretada pela Adriana Esteves) revela que é virgem para Lião (interpretada pela Drica Moraes). Lião, dirigindo, responde com uma parábola. Certa vez, um estudante tímido disse ao seu professor, que era o maior leitor de Balzac: "professor, eu nunca li Balzac na vida". Esse professor respondeu: "que sorte a sua!". O estudante não entendeu a afirmação e perguntou: "como assim que sorte a sua?". E o professor disse: "você está tendo a oportunidade de conhecer pela primeira vez um universo lindo e maravilhoso do Balzac. Você vai pisar nesse campo pela primeira vez. Eu, que já li muitos livros do Balzac, não posso mais sentir a paixão de novo pela primeira vez. Porque eu já li". 




quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Homenagem ao Eduardo Suplicy

Eu queria fazer um texto de homenagem, simples e direto. Queria homenagear um grande político e um grande homem, alguém que não jogou no lixo a sua biografia. Eduardo Suplicy foi um dos políticos dentro do Congresso que mais trouxe posições agressivas, autênticas e poéticas. Depois, dizem que a poesia não serve para nada. Foi um dos homens que mais criou projetos para Cultura e Educação, assumiu uma posição feroz contra menoridade penal, lutou por representativa democrática dentro do congresso (para eleger não somente senadores, através do processo democrático, mas também lutou para eleger suplentes). Honestamente, o melhor! De todos os jargões do PT, esse foi efetivamente o mais verdadeiro. 

Não, eu não sou petista. Também não sou do discurso da PTFOBIA. Acho que o PT merece muitas críticas, o petismo fanático é tão nocivo quanto o fundamentalismo religioso, ateu e cristão. Mesmo assim, quero agradecer de coração esses anos de Senado do Eduardo Suplicy. Ele foi um dos políticos que mais representou São Paulo, mais representou as angústias de todos nós e, sem dúvida nenhuma, foi o político que falou a língua dos poetas. Discursou a língua universal. Entendeu o homem da estrada dos Racionais, não tinha medo de chorar, não tinha medo de cantar em público. Muito obrigado, nosso melhor senador que São Paulo já teve.  

domingo, 5 de outubro de 2014

Impressões do filme "Asas do desejo" (1987)

Direção: Wim Wenders
Trilha sonora: Jürgne Knieper
Roteiro: Peter Handke, Wim Wender, Richard Reitinger








Eu vi esse filme, quando tinha catorze anos, foi uma revolução na minha vida. Fiquei muito feliz de revê-lo e de ficar novamente surpreendida com esse trabalho.  Para mim, esse filme possibilitou a minha mudança radical pelo interesse nessa arte, modificou meus hábitos, meus pensamentos e, sem dúvida, introduziu-me à ideia que o cinema poderia ser uma obra de arte. Posso dizer que esse filme foi a melhor introdução para conhecer o mundo cinematográfico através de outro ponto de vista. 

Foi um espanto, porque logo reconheci os códigos de Asas do desejo num filme norte-americano, chamado Cidade dos Anjos. Os anjos caminhando na biblioteca, lendo pensamentos, apaixonados pela humanidade, vestidos de preto e melancólicos. Os dois filmes compartilham desses mesmos signos, porém, não são os signos que  vão fazer o filme ficar bom, nem mesmo a escolha do tema, mas o modo como são trabalhados e arrematados que vai dar densidade e profundidade. Não tive a menor dúvida, quando comparei Cidades dos Anjos com Asas do desejo, são absolutamente incomparáveis. Cidades dos Anjos é um filme ruim. 


Asas do desejo

O filme inicia com um anjo sobre um prédio. Esse anjo está vestido com um sobretudo preto, cabisbaixo (como se carregasse o mundo inteiro em suas costas), melancólico, a cabeça baixa olhando para as pessoas que passam pelo trânsito de Berlim. Após minutos, aparece duas asas rapidamente, que somem depois, ele começa a caminhar entre os homens, anotando cada momento e situações que o anjo percebe no meio do caminho. Essa cena é fundamental, porque introduz algo que nos parece estranho; os anjos também sentem melancolia. Antes de tudo, há uma voz que fala sobre a experiência desse anjo melancólico, esse narrador constantemente vai repetir a frase: "quando uma criança era criança, fazia perguntas como: 'quem sou eu? Por que estou aqui? Quando o tempo termina e onde começa o espaço? Será que essa vida sob o sol é um sonho'". 

Essa narração vai mudar ao longo do filme, porque o fio condutor é a imagem do anjo melancólico que caminha entre os homens e sente inveja deles. A cena que demonstra esse sentimento nos anjos, é o diálogo, entre o anjo melancólico, Damiel (interpretado por Bruno Ganz), e Cassiel (interpretado por Otto Sander), que será a respeito das suas anotações que fizeram da vida dos humanos. Cassiel faz uma lista de situações boas e ruins que viu no meio do caminho. Damiel faz as mesmas observações, mas inclui observações a respeito da existência espiritual, ele diz que é maravilhoso saber e pairar sobre a humanidade, entretanto, gostaria de ver o mundo através do olhar de um ser humano, gostaria de sentir calor, o peso do corpo, ser cumprimentado, ter direito a maldade e o entusiasmo, sentir dor, ser selvagem. 

Ao fazer essas observações, os dois anjos voltam a pairar sobre a humanidade. Damiel encontra um circo, onde vai ver pela primeira vez a personagem Marion, uma bela trapezista. O circo está prestes a fechar as portas, porque os donos não conseguem pagar água e eletricidade. Marion, no meio do ensaio, pensa abandonar o circo, voltar ao trabalho de garçonete, ela está vivendo um momento de crise que precisa tomar uma decisão. Damiel lê os pensamentos dela, mas fica fascinado mesmo pela beleza de uma mulher humana. Marion está vestida de anjo, com grandes asas, fazendo movimentos leves no trapézio, expressando um olhar melancólico, mostrando sinais de desistência. Damiel enxerga o mundo como um anjo. Esse é o primeiro momento que mostra as diferenças de olhares. Os humanos enxergam o mundo com cores; ao contrário, as entidades espirituais veem o mundo em preto e branco. 

As pessoas do circo gritam: "olha! É um anjo passando...". Damiel pensa que alguém o viu, engana-se, o anjo era Marion. A bela trapezista, perdida em seus pensamentos, não ouve a cantada que fizeram para chamar atenção dela, continue firme em direção ao seu quarto. Fica muitos minutos em silêncio, alguém começa tocar uma música triste na sanfona. Marion vai ao quarto e coloca um disco com músicas modernas. Ela pensa nas possibilidades futuras, na decisão de abandonar o circo, na dualidade que é conversar consigo própria. Damiel escuta fascinado pela figura humana. A bela trapezista fica nua, mostra o seu corpo, como se estivesse sensualizando para alguém, amando-se; o anjo que não é visto e está aí, sente imediatamente desejo de amar como os humanos e deseja tocá-la. 

Cassiel caminha por Berlim, percebe que está cheio de ruínas. Pensa que a alma humana está muito amargurada, infestada de pensamentos de angústia, tristeza e melancolia, não consegue imaginar que a vida humana seja melhor que a vida dos anjos, mesmo invejando-a. Ele pensa em suicídio, não consegue morrer como anjo e não deseja morrer como humano. Tentar salvar um jovem suicida que está disposto a acabar com a sua vida, não consegue, aumentando ainda mais o seu pessimismo e mal estar no mundo. 

Após uma conversa com um desenhista, Damiel decide abandonar a vida como anjo. Esse desenhista explica as delícias da vida humana, como é gostoso sentir frio, fumar, tomar café, sentir o peso e etc; ele estende a mão, propondo amizade ao anjo melancólico. Damiel aceita, logo em seguida, conta essa novidade para Cassiel, ele diz: "vou fazer o mergulho, vou desistir de ser anjo e virar homem". Cassiel respeita a decisão, mas permanece anjo. 

Quando Damiel cai. O mundo se transforma, ele passa a enxergar as coisas com um olhar de humano. Sente dor, o gosto do sangue, percebe as cores que estão em volta. Imediatamente, vende a armadura, consegue duzentos dólares, compra roupas novas para procurar a trapezista. Não consegue encontrá-la, conversa com algumas crianças e diz que está doente de saudades. Esse é o primeiro sentimento de frustação humana que Damiel sente. 

Ele encontra Marion num Show de rock. A importância desse momento que ele é surpreendido pelo espanto, é o que transforma Damiel completamente em humano, dizendo que não se arrependeu em abandonar a sua existência espiritual. No final, o espectador entende que ele escreve esse processo de abandonar a sua vida anjo para se transformar cada vez mais em humano. Damiel faz a narração da sua história. 


A inveja dos anjos

A eternidade é um fardo para os anjos nesse filme. Em nenhum momento, Damiel abandona a sua condição de anjo somente por conta da trapezista. Essa decisão é tomada, pois ele percebe que a existência espiritual é absolutamente tediosa. Ele deseja uma vida igual aos humanos, pois sente um vazio ao perceber que é um anjo sem história, sem sofrimentos e sem direito à maldade. Ele deseja sentir o agora, fazer uma história e ser selvagem. 

A trapezista é um motivo que alimenta mais essa decisão, mas não é o principal motivo que move Damiel a tomar essa decisão. O anjo é uma figura que vive além do tempo, não tem corpo, não tem dúvidas e não tem sexo. Essa é uma diferença crucial entre "Cidades dos Anjos" e "Asas do desejo". O anjo do primeiro filme abandona a sua existência espiritual por conta da mulher, somente por causa do amor que sente por uma mulher humana. Damiel percebe as suas vantagens em ser uma entidade espiritual, por isso, a decisão não é fácil. 

No filme, Damiel observa constantemente figuras de artistas, possivelmente, porque eles são antenas do mundo. Eu tenho a vaga impressão que se Walter Bejamin estivesse vivo, ele escreveria sobre esse filme; pois, a Alemanha, que os anjos percorrem, é a mesma Alemanha arruinada pela Guerra, pelas mortes e por Auschwitz. É um filme que mostra artistas que também pensam abandonar essa condição, que mostra a dificuldade de continuar escrevendo poesia, mostra homens amargurados e irreconhecíveis, procurando algum espaço que ainda conta alguma história da infância deles. 

Assim, a contradição está nos anjos, mas também está nos homens, que, ao mesmo tempo, são belos e horríveis. São capazes de criar coisas devastadoramente maravilhosas, entretanto, criam máquinas de mortes, guerras desnecessárias, segregação e depressão. Os anjos sentem empatia pelos homens, porque percebem um vazio neles, encontram um lugar, onde eles podem compartilhar algum desconhecimento, algum fracasso. Nos homens, a dúvida da vida após a morte, o desconhecimento absoluto sobre a eternidade; nos anjos, a vida dentro da vida, o desconhecimento da efemeridade, do viver aqui e agora. 



sábado, 4 de outubro de 2014

Miopia

Daniel não consegue dormir, há dois meses. Ele trabalha muito, vive com a cabeça cheia de pensamentos desnecessários. É um homem culto, estudado e viajado. Não é alto, possui estatura mediana. Cortara todos os seus cabelos por conta de uma promessa, que tinha feito a si mesmo e não a Deus, nunca foi um homem religioso. Absolutamente, não acredita em Deus, mas lê literatura bíblica, da mesma maneira que devora poesias modernas. Ele sempre desejou ser poeta, mas percebeu (ainda bem) a falta de talento para escrever desde a juventude; rabiscara versos ruins e quando se casou, resolveu jogar todas as poesias fora. Daniel tinha se separado, há dois dias, e não se acostumara a dormir sozinho. Resolveu ler um livro, sentou-se e começou a leitura de Êxodo. 

Daniel estava lendo a segunda frase do texto, quando bateram a porta, a leitura, então, foi interrompida. Não sentiu medo, nem estranhou que uma visita estivesse o procurando tão tarde. No relógio da sala, indicava que era meia-noite. O homem calmo, sem cabelos, caminhou com passos largos em direção à porta. Olhou pela janela, viu uma figura enorme, cabelos negros, era um jovem de vinte anos. Sentiu, imediatamente, um sentimento adocicado e carinho pelo rosto do jovem ansioso e belo, que o esperava gravemente, Daniel abriu a porta. 

- ei! Natanael, nossa! Que surpresa te ver! -  Daniel abraçava-lhe. 
- tudo bom, tio? Eu queria uma ajuda sua. Posso entrar? - Natanael perguntou. 
- Claro, fica a vontade. Deseja algo para beber? 

Natanael sentou no sofá. Viu que o seu tio Daniel estava lendo a Bíblia, ao lado desse livro aberto, estavam outros livros de psicologia e psicanálise. Daniel não era acostumado a atender os seus pacientes em casa, quando era casado com Alice. Mas, depois do divórcio, tinha mudado esses hábitos, vendeu a clínica e passara fazer atendimentos na sua nova residência. Natanael perguntou:

- está tudo bem por aqui? É melhor atender aqui? 

Daniel lhe oferecia café. 

- ah! estou trabalhando mais do que deveria. Você quer açúcar?
- obrigado, tio, não gosto muito
- ah! estou trabalhando mais do que deveria, mas a gente se acostuma, né. É estranho dormir sozinho, depois de alguns anos de casado

Houve um breve silêncio. Natanael tomou dois goles de café. Daniel olhava para o espaço, perdido em seus pensamentos. 

- você disse que você queria uma ajuda minha?
- sim, tio. É que eu estou um pouco sem jeito pra falar.... 
- você pode começar pelo começo. Algo com seus pais?
- não, é algo com uma garota
- é a sua namorada?
- não, é a namorada de um amigo meu. Tio, ela é minha amiga, mas 

De repente, as luzes se apagaram. 

- acho que acabou a energia - Natanael disse. 


Daniel tentou acender as lâmpadas da casa. 


- acabou a energia mesmo. Será que acabou a energia em todo o quarterão? - Daniel colocava os óculos de grau, vestira um casaco, preparando-se para sair, - vou ver se acabou a energia em todo o quarterão, você vem comigo? Aproveita e me conta toda essa história.

- vamo, tio, eu vou com você sim 

As ruas estavam escuras. Havia saído todos de suas casas, as pessoas estavam assustadas. Daniel era míope e, quando estava sem óculos, principalmente, à noite, não costumava enxergar bem as coisas. Por isso, colocou os seus novos óculos de grau nos olhos. Por enquanto, enxergava todos os acontecimentos, percebeu que a escuridão havia tomado gradativamente toda a cidade. Natanael caminhava ao lado dele, parecia não estar preocupado com o escuro. Os dois caminhavam dentro da noite, a multidão vinha em direção contrária. Natanael correu indo ao encontro da massa inominável, preta, escusa e atraente. O jovem parecia querer o choque, era o seu maior desejo, estava fascinado pela multidão. Daniel gritava:

- Natanael, cuidado! Você vai se perder no meio da multidão!

Natanael correndo cego, não conseguiu ouvir os gritos do tio. Perdeu-se entre os outros, a escuridão comeu todo o seu corpo, não conseguiu mais encontrar os ecos de alguém que o reconhecesse, Natanael perdeu o nome. Tornara-se, para sempre, uma entidade que era pertencente a multidão plástica, bela, escura e inominável. Não conseguiu mais encontrar saídas, tinha esquecido a sua história, não lembrava mais o nome dos seus parentes, esqueceu completamente suas lembranças, tinha perdido o seu rosto. Natanael ficou inominável, perdeu a cor, era escuro. Fez um mergulho cego na multidão. 

Daniel tentou correr em direção ao Natanael, porém, percebeu que a multidão subia a ladeira com agressividade. Essa multidão queria destruir, era a serpente que engolia o ovo, comia o mundo e devorava quem quer que fosse. Escondeu-se da multidão, desceu até o esgoto. Os ratos riam, alguns contavam piadas, (esses animais insignificantes eram seres acostumados com a escuridão), era um dia de glória para esses ratinhos. Daniel sentiu que o coração estava inquieto, ficou estarrecido por ver uma multidão, violenta e agressiva, caminhando indestrutível e feroz na sua frente. Fugir dela, era o mesmo que fugir da morte. Um rato percebeu que ele estava sozinho e angustiado. Não era um rato comum, ele se chamava Hamlet. 

- você está com medo da multidão? - disse Hamlet

Daniel estranhou, quando os ratos começaram a falar?, perguntou-se intimamente e não conseguiu encontrar nenhuma resposta racional. Diante de todo o absurdo, conversar com um rato também não parecia ser tão incomum. 

- meu sobrinho se perdeu na multidão - disse Daniel 
- o seu sobrinho foi engolido por ela, que pena! Nunca mais ele vai voltar. Sinto muito! Vocês seres humanos são convencidos facilmente por coisas monumentais. Ainda bem que vocês não conheceram os dinossauros. Nenhum de vocês seria capazes de destruir um gigante. Desculpe a sinceridade, mas vocês são muito covardes - disse Hamlet 
- o que era a multidão? - perguntou Daniel. 
- a multidão é vocês. Por incrível que pareça! 
- como?
- esses eventos sempre acontecem na História. Não sei explicar, moço. Sei o que é a multidão. A multidão é vocês. A primeira vez que eu vi isso na minha frente, eu também era humano. Sorte a minha! Eu era amigo de uma bruxa, pedi para que ela me transformasse em animal, - Hamlet riu, - ela tinha um ótimo senso de humor, de todos os animais que ela podia me transformar, a bruxa me transformou em um rato. Veja só! 

Hamlet ria, ia abandonar Daniel no escuro. Daniel implorou para que ele ficasse, Hamlet não sentia muita empatia pelos humanos. Na realidade, detestava a humanidade. Porém, abriu uma exceção, dessa vez, resolveu, (talvez, por pena), que iria ajudar esse homem fraco e elegante, que tinha medo do escuro e dos esgotos. 

- você po...dia me ajudar a sair daqui? - pediu Daniel. 
- até poderia, mas quero algo em troca, - disse Hamlet
- qual...quer... qualquer... coi... sa - praguejava Daniel, sentia frio 

Hamlet ensinou o caminho que levava Daniel para as ruas novamente. Eram caminhos estreitos, Daniel não era alto, portanto, sentiu necessidade de ter uma estatura mais baixa. Sentiu nojo de pisar nas águas sujas, não conseguira suportar o cheiro de fezes e comida podre. Hamlet era muito falador, contava piadas demais. 

- adivinha só: o que é que um rato perguntou para um ser humano? - perguntou Hamlet

- não sei - respondeu Daniel

- podemos trocar uma ideia? 
podemos, mas acho que eu vou sair perdendo. - Hamlet ria da própria piada que tinha acabado de contar. 

Do outro lado do esgoto, havia um boteco. Era o único lugar que tinha luz, o resto estava coberto da noite e das trevas. Hamlet puxou a barra da calça de Daniel, insistindo para que ele olhasse para baixo. 

- você vai ficar nesse boteco aí, tudo bem, mas você vai ter que me comprar um queijo, se você não quiser que eu faça algo contra você, tudo bem?

- tudo bem, - Daniel continuo parado. Era um contraste muito intenso. O único lugar que tinha luz, era o lugar mais sujo e marginal da cidade. 

- vai comprar um queijo pra mim! - Hamlet modificou a sua expressão alegre, estava nervoso com a demora de Daniel. 

-Já estou indo - Daniel disse. 

Daniel caminhou até o boteco. O dono que era um homem arrogantemente narigudo, feio e gordo. Aproximou-se dele e disse:

- o que você quer? - perguntou
- eu quero queijo
- qual queijo? 
- qualquer um 

Daniel pegou o primeiro queijo que viu. Pagou ao Hamlet a ajuda que lhe devia. O pequeno animalzinho devorou rapidamente o seu queijo, depois do pagamento, foi embora sem olhar para trás. O homem de estatura alta, passos finos, voltou para o boteco. Pediu um copo d'água. O dono do boteco disse que não tinha água nesse lugar, se quisesse algo para beber tinha que ser apenas cachaça. Daniel não estava em condições para resistir, pediu cachaça. Quando a cachaça venho, engoliu-lha com gole só. Percebeu duas mulheres, que pareciam prostitutas, e um negro conversando animadamente sobre a multidão, que devorava tudo, eles estavam na outra mesa, afastados por alguns milímetros de distância de Daniel. 

- tava na hora disso acontecer - uma das mulheres disse
- eles bem que merecia todo esse sangue - outra mulher disse
- era um jovem garoto, não sei, será que precisava dessa violência? - perguntou o homem negro

Daniel interrompeu a conversa. Perguntou, curioso:

- o que aconteceu? 
- a multidão estava brigando - disse o homem negro
- um jovem acabou morrendo - uma das mulheres disse 
- o cachorro também, - outra mulher disse 
- sangue - todos falaram, praticamente, ao mesmo tempo. 

Daniel ficou preocupado, pagou a cachaça, correu até direção da multidão, que devora tudo que ver. Estava com medo. Será que o jovem que morreu era Natanael? Um transeunte correndo assustado, gritando: "meu filho! meu filho!", tropeçou numa pedra e quase caiu em cima de Daniel. Nesse momento, os óculos de Daniel caíram. Ele não conseguiu mais ver, onde estavam os seus óculos, não conseguia mais ver as formas das coisas. As luzes voltaram, todos ficaram alegres de repente. Daniel não conseguia enxergar, percebeu que algo se movia, a visão traduzia a deformidade do mundo. As ruas não estavam mais escuras. Cadê a multidão? Daniel ficou desesperado, não via mais as coisas, tudo parecia que tinha sumido. No meio da rua, ajoelhado, perdendo toda a esperança, Daniel gritou. 

Ele tinha acordado no seu sonho, desesperado. Daniel estava gritando a mais de duas horas. A porta estava trancada, quando ele acordou, percebeu que estava sozinho. Natanael tinha deixado dois livros de psicanálise em cima da mesa. Ele tomou um copo d' água, olhou a única fotografia que tinha com seu sobrinho. Sentiu uma pequena melancolia. Procurou os seus óculos, encontrou em cima da Bíblia, lembrou-se que não tinha terminado a leitura de Êxodo. Daniel voltou a ler. 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Realidades absurdas: " de onde as pessoas tiram essas coisas?"

1) Estamos vivendo numa Ditadura Gay

comentário pessoal:  Entendo a Ditadura Gay como um controle para impedir o aumento de heterossexuais na população, esse controle é feito pelo Estado. A Polícia Militar, um dos braços ideológicos de violência do Estado, usa um uniforme rosa com minissaia, bate na residência dos civis e os obriga caminhar até porões ou espaços ilegítimos para fazer tortura. A tortura é obrigar os civis cantar "I want be free" ou "I will survive", para depois, os civis sofrerem violência sexual. Homens são obrigados a dar o cú. Mulheres são obrigadas a "brincar de DJ". 


2) O Brasil está vivendo em um estado feminista

comentário pessoal: essa frase é ambígua. Podem oferecer dois sentidos diferentes. Estado e estado são palavras homônimas, possuem a mesma forma, mas são palavras diferentes. Estado (com letra maiúscula) significa uma das divisões de uma República Federativa, constituída por uma nação e que faz parte - segundo a nossa Constituição Civil - da União; Substantivo Masculino. A palavra estado se refere a outra coisa, estado é derivado do verbo estar, diz respeito a um comportamento biológico, espiritual ou mental de uma pessoa. 

Na minha opinião, o estado feminista é um efeito produzido por drogas, ainda pouco relatadas na sociedade (a droga ilícita chama-se FÊMEN ou Bouno Sense), que consiste alterar o comportamento ideológico das pessoas de um comportamento heteronormativo e machista para uma noção ideológica feminista e que defende o fim do sexismo, o combate a uma sociedade patriarcal e heteronormativa. Essas drogas não possuem preço acessível para maioria da população, por isso, não se encontra ainda nas farmácias populares. 

3) As feministas são assassinas, porque elas defendem o aborto

comentário pessoal: Essa frase é uma afirmação extraordinária, portanto, exige uma evidência extraordinária. Há, pelo menos, três implícitos nessa frase:

1) implícito n.1: o aborto é um crime comparável ao homícidio
2) implícito n.2: as feministas já fizeram um aborto 
3) implícito n.3: as feministas são naturalmente abortistas

Independentemente, das posições em relação a esse tema, não é plausível fazer uma afirmação assim. Quando se diz que as feministas são assassinas, o pressuposto é que elas já fizeram o crime do aborto, por isso, elas defendem tanto. É fácil comprovar a fragilidade dessa afirmação, eu mesmo sou a quebra dessa hipótese. Sou feminista e nunca fiz aborto. O fato de existir feministas, isso não significa que a simples existência delas é o sinal de vários abortos feitos no Brasil. As feministas não acordam abortando; não ficam com gripe e resolvem fazer um aborto; não transam para fazer um aborto; não sonham para produzir abortos na realidade. As feministas não têm esse poder. Sendo assim seria muito simples fazer um aborto, bastava apenas se tornar feminista. Simples assim. Não precisa de tanto trabalho e nem passar por um procedimento invasivo e violento.