sábado, 29 de junho de 2013

Sobre todos os homens do mundo

A inspiração dos musos que não conheci  

Posso falar aqui para você que guardará segredos e não vai contar para ninguém. Já senti inveja dos namorados de minhas amigas e já desejei certos homens que jamais seriam meus. Sabe aquele rapaz que a gente olha de longe, imagina uma história inteira na cabeça, imagina coisas que não são possíveis, imagina todas as coisas e depois só fica mesmo na imaginação. Sempre tive uma intuição muito forte com isso, tem alguns homens que sinto que posso viver algo com eles e outros que só ficarão na minha imaginação.
Alguns homens conseguem ser tão sedutores que uma centelhinha de esperança permanece no corpo; quem sabe a imaginação não concretiza? Um convite para sair no sábado, talvez? Sempre fui muito tímida na frente dos moços que ganharam meu coração ou que ganharam outras coisas mais interessantes que o meu coração, afinal, com coração não é possível fazer muita coisa, não é mesmo? Coração não serve para muita coisa, fica dentro da gente e não tem porta de entrada. Só serve para cardiologistas. (O coração como símbolo de amor sempre me pareceu algo muito estranho, ele é um punho fechado, não se parece nada com uma coisa tão virtuosamente boa que os católicos significam como amor. Também, convenhamos a criação de símbolos de prazer e alegria, infelizmente, não são habilidades que as religiões possuem. Cultivamos um Cristo morto e torturado numa cruz, gostaria de ver Jesus Cristo fazendo sexo, ao menos, a vida faria mais sentido).
Estávamos falando sobre um segredo que eu tenho para contar para vocês, peço que vocês guardem com muito carinho. Não quero contar, porque vocês logo chegarão à conclusão que eu sou muito invejosa. Mas sabe que é? Existem alguns homens que a gente olha de longe, são tão lindos, acho que eles nem fazem tanta ideia de como chamam atenção. Certa vez, estava sentada no ônibus, escutando uma música, vi um rapaz lindo, barbudo, cabelos pretos, rosto redondo, mãos grandes e toscas. Ele sentou-se ao meu lado, imediatamente, imaginei tudo que poderia acontecer, fiquei olhando para janela, mas estava em outra dimensão. Não sabia nem o nome do rapaz, apenas observava calmamente o jeito como ele segurava a maçã.
Quando a gente desceu no ponto final, esse menino encontrou uma garota e deu-lhe um beijo na boca. Pensei coisas horríveis, mas deixei para lá, afinal, a sorte de amores que acontece na imaginação, é que conseguem ser mais efêmeros que sexo casual. Me irrito mesmo são com alguns amigos. Tenho alguns amigos que eles nem sabem que já tive desejo por eles, quando nos encontramos pela primeira vez. Acontece é que sou envergonhada demais para ter coragem de falar uma coisa dessas, no entanto, não custa recordar uma história.
Um menino que conheci no ônibus também, eu voltava para casa. Ele se apresentou como André e, imediatamente, eu fiquei encantada. O rapaz era de uma gentileza rara, fiquei fascinada com a voz dele e a sua estranha maneira de dizer “oi”, ele falava mexendo as duas mãos, parecia tão tímido quanto eu. Chegamos a ter um casinho, mas logo ele começou um namoro com uma amiga minha. É óbvio que cai de felicidades com namoro dos dois, até segurei um pouco de vela, mas não nego em dizer que quando estamos sozinhos e encostamos distraidamente as nossas mãos, não nego em afirmar que a imaginação perde um pouco o controle. Penso às vezes que poderia acusar os dois de traição, porque o mais gostoso de estar com alguém é a ideia de estar apaixonada, invejo a relação que ambos possuem e fico pensando, na minha cabeça, acho que eles estão vivendo uma coisa que deveria ser minha. Eu tenho ciúmes, então, de uma experiência que eu teria chance de vivenciar e não quis.
Penso isso com todos os casais que vejo na rua, bem resolvidos ou que transparecem isso. Ao menos, penso isso e me afundo em uma desconfiança. Não posso acreditar na perfeição, tudo que parece muito harmonioso, tenho dúvidas. Um ser humano que tem todos os seus sonhos realizados é tão tedioso, normalmente, não consigo conversar com pessoas assim. A ideia de perfeição é, para mim, uma ideia de morte. Jamais, conseguiria escrever de novo, não teria inquietudes no meio da madrugada, não sairia mais sozinha, não comeria pizza e coca-cola sozinha, não ia assistir filmes sozinha, não ia ouvir música sozinha, não ia fazer mais nada sozinha, porque eu teria alguém que roubaria minha energia ao meu lado e me daria uma ideia de vida perfeita. Eu seria uma chata.
Como os homens são bonitos! Às vezes, confesso, eu gosto mais de observar, gosto de reparar que eles não perceberam que estão sendo observados. Gosto de tomar um café e ver aquele rapaz passando no meio do meu caminho, caminhando longe e indo para onde precisar ir, sabendo que os nossos cotidianos são inconciliáveis. Gosto de ver o jeito de andar daquele moço, gosto de reparar o jeito que ele é tão distraído como eu, gosto de saber que a vergonha é um sentimento comum (e não é uma questão de gênero), gosto de ver a maneira como ele abre a boca, os cabelos mal penteados, a mão passando na barba e o cigarro no chão que ele acabou de pisar com pé esquerdo. Gosto de observar e imaginar o que não se pode imaginar, é outro modo de escapar das banalidades, é um outro modo que durante a rotina sem a embriaguez do álcool, eu consigo me dar um pouco mais de prazer. São musos, merecem um olhar de inspiração.

(a inspiração é tão fugaz). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário