sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Presença

Imagino como seria te amar
teria o gosto estranho das palavras
que brincamos
     e a seriedade de quando esquecemos
quais palavras
imagino como seria te amar:
desisto da ideia numa verbal volúpia
e recomeço a escrever
poemas
(Ana Cristina Cesar)


Para você que escrevo, meu amor, e não basta dizer que sinto sua falta.  Preciso dizer que todas as palavras possuem os seus limites. Te exijo. Quero você para mim, não quero o seu pensamento, quero suas mãos no meu corpo, quero você como uma canção de bolero que arranca a minha alma dessa vida. Para você que escrevo, meu amor, e não basta dizer que te amo e necessito de ti.
Te exijo, te quero concreto, quero sentir sua pele, quero ouvir o seu ar, quero gritar o seu nome no meio da rua, tirar minha roupa e gemer despudoradamente junto com você. Te quero presente, não quero ideias que surgem fragmentadas, não quero só a sensação que deixou entre minhas pernas, não quero só a sensação de um beijo que só foi despedida. Me faço ridícula, me faço idiota diante de todos os meus amigos, porque estarei louca, perdida na concretude de seu nome, nos seus dedos macios, no jeito que acaricia meu cabelo, estarei apaixonada e estarei pronta para te perder mais uma vez, de novo, outra vez, todas as vezes que forem necessárias eu me perderei em ti. Nos teus braços que me escondem no mundo em uma braçada, serei esquecida por meus talentos, estarei desaparecendo no público, meus pais não lembrarão meu nome, meus amigos serão uns imbecis para quem não correrei mais, com você, meu amor, eu serei a mulher mais egoísta do mundo. Não saberei mais que horas são, só terei tempo de sentir prazer.
Não quero mais a ideia de sua ausência atormentando o meu cotidiano, quero amar a sua presença, quero morder a sua orelha, quero sentir a sua saliva molhando os meus cabelos, quero toda a materialidade do sexo e quero me cansar com você. Quero tanto você que me esqueço completamente de viver as coisas que acontecem aqui, estou com você nas minhas ideias, quando, sorrateiramente, caminho sozinha e lembro da sensação doce da sua respiração ofegante no meu corpo.  Te exijo, quero que a sua ideia desapareça, quero que as suas mãos se materializam, quero que você me ame todos os dias, quero que o seu corpo seja minha rotina, quero que você não seja apenas um delírio, te quero inteiro. Te exijo, o seu pensamento não é suficiente para satisfazer minha ânsia.
É para você que eu escrevo, meu amor, e me faço mais ridícula para entender que não basta dizer que sinto saudades de nós dois. É preciso que esse “nós” seja minha realidade, exijo a sua presença, a sua ausência que move minhas ideias me levará a loucura, não aguento mais te procurar em outros rostos, lembrar da sua boca em outros homens, não posso mais dormir com mais ninguém com você na minha cabeça.  Não posso sonhar com pensamentos, quero você, meu amor, te quero presente.  

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