está impresso na minha
testa
a impressão besta
da nossa última
detestável conversa
já esquecida
não se preocupe
não estou chateada
frases são assim mesma,
de natureza efêmera,
mais cedo ou mais
tarde,
elas serão esquecidas
(obs: espero esquecer
tudo
espero ser esquecida do
mundo)
vamos conversar
sei que esse é o fim de
tudo
isso é a nossa
separação
sei que, possivelmente,
eu encontre uma outra pessoa
e aconteça o mesmo com
você
mas, agora, quando as
coisas estão em chamas
e você está aí, sentado
na beira da cama,
eu estou aqui, deitando-me
sobre os ouvidos, adiando o término dessa discussão
não escutando suas palavras
de fúria contra mim,
não gritando ternas
palavras cruéis, cobertas de arrependimento.
são só palavras, eu
sei. (Vou me contradizer), você também é poeta,
sei que entende que as
palavras são só palavras.
mas, nesse instante, eu
aqui e você aí, sentado na beira da cama.
uma palavra pode estar
no meio do caminho.
as frases são assim
mesmo,
de natureza efêmera,
mas uma palavra
modifica uma era
sei que está impresso
no meu corpo
todas as nossas
conversas,
fincadas como tatuagem
E o que me resta?
esquecer o mundo que
tinha você
e fazer um mundo, onde
eu possa ser esquecida por todos
meu poeta, todas as
minhas escritas foram para você
depois que o nosso amor
acabou
eu preciso me
reinventar
essa é a parte difícil
torna-me branca, virgem
outra vez
preciso aprender a esquecer,
e para isso faço-me lembrar
de tudo que eu me
tornei por sua causa
de tudo que eu perdi e
realizei por causa dessa última detestável conversa
precisei apanhar os
caquinhos do que sobrou,
quando você saiu do
apartamento
houve consentimento no
fim
as lágrimas de domingo
foram inevitáveis
a música que ouvi no supermercado
a laranja que tinha o
seu nome na casca
meu amor, passei os
meus dedos na casca da laranja
senti que o cheiro que
exalava era o seu
coloquei-a na minha
boca
a saliva molhou minha
pele
a laranja revelou no
meu ouvido sua palavra secreta
senti você
tive que preencher
minha memória
de suco de laranja
escutei o telefonema,
era Marcela cobrando minha presença:
-Bruna, você esqueceu
de escrever aquela redação?
- mas, justo hoje?
- venha aqui agora
Tive que ir
o mundo não se esqueceu
de mim
por outro lado, enchi
minha memória de suco de laranja
quando choro
repentinamente, sinto que minha lágrima
tem cheiro de fruta cítrica.
Aí, meu sorriso fica azedo,
minhas palavras perdem
o jeito lacunar, todas hoje têm dimensão de laranja
peso, sabor, altura e
formato
Nenhum comentário:
Postar um comentário