quinta-feira, 22 de maio de 2014

A última palavra de Julieta

1 parte: A Canção de Julieta

Eu sou pequenininha como uma larva
                    no meio da rua crava
                   o meu coração

                pequenos joguetes da paixão
                 evaporam
                 (rotineiros)
                Sombras de ciúmes e caos
                doce duo
               (derradeiros)
                Sobram suspiros mútuo

                eu sou pequenininha como uma larva
                no meio da esquina crava
                o meu coração sobre uma pedra de cristal
               borrado de sangue e medo
           
             um desenredo colossal 
             marca todas as histórias de amor
             crimes severos perpetuam mitos
              grandes histórias de amor são belos homicídios

             eu sou pequenininha como uma larva,
             cantada por trás de lindas palavras,
             no meio do papel crava
             minha alma
             cruel e dissimulada
            profunda e mortal


2 parte: Uma carta ao Romeu

Aos berros, Romeu diz: Julieta! Julieta!
Eu respondo: não grites, Romeu!
Romeu diz: por você, eu te dou meu coração, o céu e todas as estrelas
Eu digo: não precisa de tanto, não desejo nem estrelas e nem violetas
Romeu diz: essa paixão me violenta, quero a ti e serei teu. Prometo à lua
Eu digo: Não faça isso, não prometa à lua. Se prometer a mim sobre o teu amor, faça essa promessa por ti, quem eu acredito e sou adoradora.  Não faças promessas à lua, ela é de natureza inconstante e muda de fases; ora cheia, ora meia, ora inteira. Não quero acreditar que esse amor que sente por mim, sofre a inconstância da lua. Jure, meu Romeu, jure por ti e eu vou acreditar
Romeu jurou simplesmente.

Eu sou pequenininha como uma larva
Sepultada no meio da madrugada
Crava o meu coração
Com um veneno doce de todas as palavras
Malditas e eternas
Toda a paixão
é um anúncio de morte

Uma palavra como um corte
Arranca um pedaço
Rasga o aço
Floreia o mórbido
Romeu e Julieta
Flertam com a morte

Eu sou pequenininha como uma larva
No meio do tempo crava
outras palavras:  

“Romeu, por ti, eu amei a liberdade
E só, por isso, eu te amarei por resto de toda a eternidade
O teu amor era inconstante como a lua
Mas, a liberdade é dura e lascívia,
como venenosas larvas,
alinhando as tuas veias pálidas
jovens e estúpidas.
Romeu, por ti, eu amei a ideia de estar livre das caixinhas
Mas, morri uma jovem bela e estúpida
Ainda bem que não morri virgem e amarga
Romeu, por ti, eu amei uma vida nova
Menos cínica, menos hipócrita
Tu és um tolo herói, morreste por falta de pensamento
Por contentamento, apenas por isso,
A nossa história de amor foi a única que teve um final feliz.”

Com carinho e doçura,

Tua, sempre tua, eterna e jovem, Julieta

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