1
parte: A Canção de Julieta
Eu sou pequenininha como uma larva
no meio da rua crava
o meu coração
pequenos joguetes da paixão
evaporam
(rotineiros)
Sombras de ciúmes e caos
doce duo
(derradeiros)
Sobram suspiros mútuo
eu sou pequenininha como uma
larva
no meio da esquina crava
o meu coração sobre uma pedra
de cristal
borrado de sangue e medo
um desenredo colossal
marca todas as histórias de amor
crimes severos perpetuam mitos
grandes histórias de amor são
belos homicídios
eu sou pequenininha como uma
larva,
cantada por trás de lindas
palavras,
no meio do papel crava
minha alma
cruel e dissimulada
profunda e mortal
2
parte: Uma carta ao Romeu
Aos berros, Romeu diz: Julieta!
Julieta!
Eu respondo: não grites, Romeu!
Romeu diz: por você, eu te dou meu
coração, o céu e todas as estrelas
Eu digo: não precisa de tanto, não
desejo nem estrelas e nem violetas
Romeu diz: essa paixão me violenta,
quero a ti e serei teu. Prometo à lua
Eu digo: Não faça isso, não prometa
à lua. Se prometer a mim sobre o teu amor, faça essa promessa por ti, quem eu
acredito e sou adoradora. Não faças
promessas à lua, ela é de natureza inconstante e muda de fases; ora cheia, ora
meia, ora inteira. Não quero acreditar que esse amor que sente por mim, sofre a
inconstância da lua. Jure, meu Romeu, jure por ti e eu vou acreditar
Romeu jurou simplesmente.
Eu sou pequenininha como uma larva
Sepultada no meio da madrugada
Crava o meu coração
Com um veneno doce de todas as
palavras
Malditas e eternas
Toda a paixão
é um anúncio de morte
Uma palavra como um corte
Arranca um pedaço
Rasga o aço
Floreia o mórbido
Romeu e Julieta
Flertam com a morte
Eu sou pequenininha como uma larva
No meio do tempo crava
outras palavras:
“Romeu, por ti, eu amei a liberdade
E só, por isso, eu te amarei por
resto de toda a eternidade
O teu amor era inconstante como a
lua
Mas, a liberdade é dura e lascívia,
como venenosas larvas,
alinhando as tuas veias pálidas
jovens e estúpidas.
Romeu, por ti, eu amei a ideia de
estar livre das caixinhas
Mas, morri uma jovem bela e estúpida
Ainda bem que não morri virgem e amarga
Romeu, por ti, eu amei uma vida nova
Menos cínica, menos hipócrita
Tu és um tolo herói, morreste por
falta de pensamento
Por contentamento, apenas por isso,
A nossa história de amor foi a única
que teve um final feliz.”
Com carinho e doçura,
Tua, sempre tua, eterna e jovem,
Julieta
Nenhum comentário:
Postar um comentário