sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Carta aos velhos poetas

Confissões de uma jovem e azarenta leitora que tenta escrever contos de vez em quando para os velhos brasileiros:


“Uma espécie de inesgotável e arraigada infantilidade atinge o nosso povo; em direta oposição com o que há de melhor em nós, nosso infalível senso prático, com frenquência nos portamos com a mais rematada insensatez, exatamente a mesma insensatez das crianças, inconscientes, desperdiçadores, grandiosos, irresponsáveis, e tudo isso muitas vezes em nome de alguma diversão trivial.
[...]
Mas nosso povo não é apenas infantil, somos também em certo sentido prematuramente velhos. A infância e a velhice não nos chegam como aos outros. Não temos juventude, logo somos todos adultos e então permanecemos adultos por tempo demais, daí se originando um certo cansaço e uma certa desesperança que deixa uma profunda marca na natureza do nosso povo, em geral resistente e esperançoso”
Franz Kafka
Josefina, A cantora ou o Povo dos Ratos  


Todos dão conselhos aos jovens poetas. Queria fazer o contrário, queria dar um conselho aos velhos poetas. Por favor, peço a vocês, não aconselhe a juventude, ela não precisa de suas histórias, não existe necessidade de saber as suas angústias e tristezas para criar as nossas narrativas. Cada narrativa é uma. 
Em um mundo, estranhíssimo como nosso, onde a juventude envelhece como irresponsáveis. As mulheres crescem acreditando em cinderelas e "caras certos". É, realmente, muito perigoso nadar contra corrente, afinal, algumas mulheres nascem com o dom da feitiçaria e desejam virar uma pessoa, não ficção, muitos menos contos de fadas.  Os estereótipos são o alvo da verdadeira justiça, morram todos eles. A juventude anda envelhecendo muito cedo, escrevo também aos velhos jovens que fingem tanta felicidade, porém, também usam estereótipos comprados na primeira esquina. Não criem imagens para os outros, velhos poetas, escutem a juventude, sejam educado pelas crianças e não ofendam o Tempo. Isso ainda pode voltar contra vocês. 
Cada narrativa é uma. Meus queridos velhos poetas, não aconselhe a juventude, se possível ajunte-se a ela, fale baixo, escute o seu entusiasmo e transmite suas experiências sem utilizar a máscara da autoridade. Não aconselhe a juventude. Não use frases de mau gosto, como: "as crianças daquele tempo"; " ah! o namoro daquela época...". O sintagma "daquela época" só significa que você, meu velho, está mais próximo da morte. Não inveje a beleza dos jovens por conta disso. 
Seja uma pessoa, não seja o oráculo. Mas, quando estiver sensato e embebido de vontade e amor, aconselhe a juventude, meu querido poeta, afinal, os jovens erram muito, caem muito na vida. Precisam dos mais velhos, ao menos, para criar as dúvidas e para criar as tensões. Não fuja das suas responsabilidades, não negue a sua história, aconselhe a juventude em base as suas experiências anteriores. Aconselhe, tendo uma certeza irrevogável: "o meu conselho não tem nenhuma utilidade, a vida é de cada um, a responsabilidade de estragar ela não é minha". 
Meus queridos velhos poetas, estejam vivos. Não fiquem frios por causa da crueldade do mundo moderno, não fiquem confortáveis com suas manias e vícios da idade. Rejuvenesçam, mas não escondam o que o tempo fizeram com vocês, não acreditem na beleza efêmera dos jovens, eles não sabem ainda o que fazem, precisam dessa falta de conhecimento para conhecer o mundo. Meus poetas, não morram, fiquem eternos, mas desapareçam às vezes para o novo surgir. 


Respeitosamente,
Uma jovem escritora brasileira

Um comentário:

  1. existe um ponto além do qual não há mais retorno, este é o ponto que precisamos atingir! Kafka

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