Confissões de uma jovem e azarenta leitora que
tenta escrever contos de vez em quando para os velhos brasileiros:
“Uma espécie de inesgotável e
arraigada infantilidade atinge o nosso povo; em direta oposição com o que há de
melhor em nós, nosso infalível senso prático, com frenquência nos portamos com
a mais rematada insensatez, exatamente a mesma insensatez das crianças,
inconscientes, desperdiçadores, grandiosos, irresponsáveis, e tudo isso muitas
vezes em nome de alguma diversão trivial.
[...]
Mas nosso povo não é apenas
infantil, somos também em certo sentido prematuramente velhos. A infância e a
velhice não nos chegam como aos outros. Não temos juventude, logo somos todos
adultos e então permanecemos adultos por tempo demais, daí se originando um
certo cansaço e uma certa desesperança que deixa uma profunda marca na natureza
do nosso povo, em geral resistente e esperançoso”
Franz Kafka
Josefina, A cantora ou o Povo dos Ratos
Todos dão conselhos aos jovens poetas. Queria
fazer o contrário, queria dar um conselho aos velhos poetas. Por favor, peço a
vocês, não aconselhe a juventude, ela não precisa de suas histórias, não existe
necessidade de saber as suas angústias e tristezas para criar as nossas
narrativas. Cada narrativa é uma.
Em um mundo, estranhíssimo como nosso, onde a
juventude envelhece como irresponsáveis. As mulheres crescem acreditando em
cinderelas e "caras certos". É, realmente, muito perigoso nadar
contra corrente, afinal, algumas mulheres nascem com o dom da feitiçaria e
desejam virar uma pessoa, não ficção, muitos menos contos de fadas. Os estereótipos são o alvo da verdadeira
justiça, morram todos eles. A juventude anda envelhecendo muito cedo, escrevo
também aos velhos jovens que fingem tanta felicidade, porém, também usam estereótipos
comprados na primeira esquina. Não criem imagens para os outros, velhos poetas, escutem a juventude, sejam educado pelas crianças e
não ofendam o Tempo. Isso ainda pode voltar contra vocês.
Cada
narrativa é uma. Meus queridos velhos poetas, não aconselhe a juventude, se
possível ajunte-se a ela, fale baixo, escute o seu entusiasmo e transmite suas
experiências sem utilizar a máscara da autoridade. Não aconselhe a juventude.
Não use frases de mau gosto, como: "as crianças daquele tempo";
" ah! o namoro daquela época...". O sintagma "daquela
época" só significa que você, meu velho, está mais próximo da morte. Não
inveje a beleza dos jovens por conta disso.
Seja
uma pessoa, não seja o oráculo. Mas, quando estiver sensato e embebido de
vontade e amor, aconselhe a juventude, meu querido poeta, afinal, os jovens
erram muito, caem muito na vida. Precisam dos mais velhos, ao menos, para criar
as dúvidas e para criar as tensões. Não fuja das suas responsabilidades, não
negue a sua história, aconselhe a juventude em base as suas experiências
anteriores. Aconselhe, tendo uma certeza irrevogável: "o meu conselho não
tem nenhuma utilidade, a vida é de cada um, a responsabilidade de estragar ela
não é minha".
Meus
queridos velhos poetas, estejam vivos. Não fiquem frios por causa da crueldade
do mundo moderno, não fiquem confortáveis com suas manias e vícios da idade.
Rejuvenesçam, mas não escondam o que o tempo fizeram com vocês, não acreditem
na beleza efêmera dos jovens, eles não sabem ainda o que fazem, precisam dessa
falta de conhecimento para conhecer o mundo. Meus poetas, não morram, fiquem
eternos, mas desapareçam às vezes para o novo surgir.
Respeitosamente,
Uma jovem escritora brasileira
existe um ponto além do qual não há mais retorno, este é o ponto que precisamos atingir! Kafka
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