Ao Monteiro,
quem me ensinou ouvir rock n' roll
com quem bebi meu primeiro gole de uísque
quem me contou muitas histórias
um bom amigo!
Nada
é tão precioso a ponto de ser eterno. As boas músicas efemerizam a nossa
realidade e eternizam as nossas memórias; quando menina ouvia Toquinho, Elis e
Vinicius mais do que bebia água. Aprendi a tocar violão, porque gostava de
blues e imitar os acordes difíceis da bossa nova. Ouvia rock, mas não me cabia
qual era o motivo, a chama subversiva não me contagiava. (Desde cedo, eu saquei
que artista não tem que agradar, os melhores iam em direção contrária do sentido
imposto).
Mas
houve uma mudança tão profunda em mim, conheci um moço gordo de olhos azuis e
melancólicos, um vagabundo, um indivíduo típico de histórias norte-americanas,
que bebe mais conhaque do que água. Ele ouve emaranhados de Engenheiros do
Hawai como se as canções fossem dele, contagiou-me com um certa efusão de
tristeza que já tinha me esquecido, transformando os meus ideais em litros de
cenas alegremente depressivas, todos os gritos reprimidos foram soltos na pinga
e no rock.
-
bruninha, o rock salvou minha alma, mas estragou o meu corpo! – e com uma
risada rouca reiterava – e o que cê acha do bota fogo?
Por
trás de tantos risos, a fumaça esvaziava um olhar doce, evidenciando um caminho
tão longo que lhe dava licença de utilizar tantas palavras dionisíacas. Não era
um amigo que se cria um vínculo eterno, logo desvincularia por completo. Seria
rapidamente órfã dele assim como fui com a Amanda, a Tais e a Clarice. No
final, teria que saltar os muros impostos com minhas próprias pernas e
acobertada com seu rock n’ roll, o sangue contínuo de suas palavras.
-
eu era tão bossa nova que tinha me esquecido do rock, - confessava ao meu amigo
-
eu tenho uma teoria da bossa nova, às vezes é bom ficar no violão e no
banquinho, mas depois eu volto pro rock and roll pra botar os pés no chão
– tragando outro cigarro malboro
inexpressivo.
Acho
que durante muito tempo, perdi-me em mim. Influenciada demais por minha bela
subjetividade, muito mulherzinha, viciada demais com tantos intelectualismos,
sem gritos, sem inquietudes pra fora, sem sexo, sem porres, estava demais
sóbria. Com tanto equilíbrio, tinha me esquecido das minhas metamorfoses,
precisava inventar o amor, precisava inventar um drama. O mundo estava
inexplicável de novo, os sentimentos voltavam com rangidos finos de guitarra, a
rebeldia contagiava-me, agora podia assumir um pouco de poesia. O rock tinha me
salvado! Me colocou de novo no chão tão bossa nova, uma alma contaminada por
muito intelectualismo.
-
bruninha, eu não quero que te falar o que eu sei, não quero que você se torne
eu, porque eu vou embora, então não sou seu exemplo. Sou um herói errado, nem
tenho o corpo de dezoito mais, sou gordo e perto da morte.
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