Uma menina de onze anos,
mais ou menos, sentada numa arquibancada de madeira observando curiosamente, com
seus olhinhos negros e ácidos, aquele cenário rústico e sem grandes fantasias.
O espaço vazio pode não significar nada à primeira vista. Aquela criança usava
um vestidinho de borboletas, caminhava afobada para cima e para baixo,
procurando por algo (que talvez nem ela soubesse direito). À primeira vista era só uma criança com
vestido, olhinhos ácidos e rosto meigo.
Eis que entra a primeira
música do dia. O som preenche o vazio espacial. A menina cala a boca
estupefata, quase engole a saliva de susto, acordando os olhos ácidos subitamente.
Havia uma espécie de imã nos olhinhos frágeis, que orbitavam o pequeno espaço
do imenso branco, olhando o imenso teatro. Os atores, todos sem nomes e
pintados, dançavam uma música atraente e divertida. Ela queria rir, dançar e
entrar naquela brincadeira para sempre com eles. Permaneceu sentada.
Eis que entra Miriam
Muniz. A menina olhava curiosamente para aquela aparição que não significava
nada para ela, somente o fato dessa atriz possuir uma energia libertária e subversiva. Para se proteger do susto, ela começou a rir. Isso chamou a
atenção da atriz, que não parecia atuar, Miriam olhou-a de perto com os seus
óculos escuros. A menina não viu os olhos da outra pessoa desconhecida que a
observava intensamente.
Miriam Muniz – Você tá
rindo do quê?
A menina não respondeu.
Miriam Muniz – vem cá!
A menina caminhou até a
atriz.
Miriam Muniz – você sabe
abraçar?
Menina – sei sim
Miriam Muniz – então...
me abraça!
A menina obedeceu essa
aparição de óculos negros, cabelos brancos, que caminhava como corcunda. Dava
medo, principalmente, a voz encarniçada e ranheta que ela soltava para
preencher o vazio do espaço. Ela a abraçou, quase querendo abandonar a decisão
de abraçar um ser desconhecido, abraçou com os braços inseguros.
Miriam Muniz – não, não,
você não sabe abraçar. Preste atenção! Você não pode ter medo do meu corpo. Vem
cá! Encoste em mim, sem medo, a minha buceta tem encostar na sua, com o homem é
a mesma coisa, o pau tem encostar em você. Entendeu? Não pode ter medo do corpo
do outro. Nunca! Agora tente me abraçar de novo
A menina sorriu,
abraçando-a outra vez.
Miriam Muniz – Isso!
Isso! É assim que se abraça... E você que tá rindo? Vem cá me abraçar também
(ela abraçava um homem agora). Não, Não, o seu pau tem que encostar em mim,
você não vai me comer por causa de um abraço, mas o corpo tem de estar perto do
outro corpo. Só é abraço quando é assim, o corpo inteiro colado com o outro.
A peça acabou por volta das dez horas da
noite, ela – a menina de vestidinho – tinha aprendido a abraçar.
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