Sempre acreditei na possibilidade de ser uma pessoa melhor do que as outras gerações. Pensava que isso seria possível, porque a minha geração viu acontecimentos impressionantes na História. Acreditei que era possível, porque eu li mais livros do que a minha vó, vi mais peças de teatro do que meu bisavô e assisti mais filmes do que minha mãe.
Sempre acreditei que era possível melhorar o mundo, porque não seria possível cometer os mesmos erros que foram feitos no passado. Eu, por uma questão de tempo e espaço, já estava numa grande vantagem. Todos falavam isso para mim. Todos gritavam o meu nome, me prometendo um belo futuro. Era o meu troféu, meu destino antes de nascer. A minha geração estava destinada ao gozo supremo, já que todas as batalhas já foram vencidas.
O que temos? Uma pilha de antidepressivos e alguns jovens suicidas antes de completar trinta anos. Nos deram algumas centenas de frases de autoajuda. Algumas frases de efeito nos autdoors, isso é o mais próximo de poesia que poderíamos chegar nessa geração, (já que ninguém mais gosta de ler essas bobagens artísticas).
Sempre pensei que poderia escrever o próximo Crime e Castigo. Eu e mais centenas de jovens, tão egoístas e mimados, como aprendemos a ser. Andamos nas esquinas dessa cidade e, para respirar um pouco de ar, precisamos aprender a fumar, para conversar despreocupadamente, precisamos aprender a beber, para sermos fortes, precisamos aprender a cheirar e etc, etc, etc. Aprendemos a nos drogar, porque é impossível viver sem as nossas verdadeiras musas, sem sexo, sem gênero, sem interesses, sem identidade, apenas um gole, um trago, uma carreira e só. Vai ficar tudo bem.
Os meus melhores amigos sempre diziam essa estúpida frase: "vai ficar tudo bem". Eu como acreditava nos anjos e nos demônios, tinha fé nessa frase da mesma forma que Candinho acreditava no Pangloss sem piscar os olhos, sem sentir indignação e sem questionar. Crer é isso, é não questionar. Essa frase é mais repetida do que comercial de bebidas alcoólicas; as pessoas tentam nos convencer que ela é verdadeira, honesta e mágica.
"Vai ficar tudo bem". Quando Candinho ouviu essa frase, logo aconteceu o terremoto mais famoso de Londres. "Vai ficar tudo bem", de repente, as torres gêmeas são destruídas. "Vai ficar tudo bem", então, massacre de bebês palestinos. "Vai ficar tudo bem", greves, manifestações, medos incontornáveis, mortes, suicídios, greves, manifestações. "Vai ficar tudo bem, temos um partido de esquerda no poder".
Quando Candinho ouviu essa estúpida frase, ele perdeu uma bunda, foi parar na inquisição, quase morreu. Imagino que a nossa geração seja uma espécie de Candinho que acredita numa promessa bela e maravilhosa; ela nos feita vintes anos atrás e algumas vezes somos capazes de matar por ela. Como alguns homens são capazes de matar por amor. A única morte legítima é a faca de um amante numa mulher amada. Aposto que o amante sempre diz: "vai ficar tudo bem, não vai doer nada, a faca só vai entrar um pouco, é só a cabecinha. Eu te amo!". É assassinato, mas quem se importa, foi por amor.
Eu que imaginava que, para ser uma pessoa melhor, tinha que estudar, duvidar e ter mais conhecimento do que as outras gerações. Eu que imaginava que, para ser uma pessoa melhor, tinha que ser capaz de matar por amor. Imaginava que precisava ter bondade, ter sede e ter gentileza. Ao contrário, precisava era ser má, muito cruel, precisava ser capaz de ser cínica, precisava mentir, odiar e criar laços de indiferença. Para ser uma pessoa "melhor", eu tinha que ser o que não me ensinaram, precisava ter coragem de falar outra frase: " não vai ficar tudo bem".
"Não vai ficar tudo bem, não está tudo bem, vai demorar anos, séculos, a nossa tão esperada eternidade, para um dia ficar tudo bem. Somos cruéis demais para ficar tudo bem. Nunca vai ficar tudo bem. Está tudo horrível!".
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