sábado, 27 de dezembro de 2014

Criança

nunca gostei mesmo da forma que os adultos tratam as crianças. Ao contrário, sempre achei muito bonito como os poetas falam das crianças, como é um mundo a ser descoberto. Uma criança não possui forma, pode ser qualquer um, é algo maravilhoso. Hitler já foi uma criança, Einstein também. Acho que nunca gostei desse tratamento dos adultos, porque acho insuportável alguma pessoa ignorar a outra. 

Já viram o que os adultos discutem? Nada demais, crianças, eles morrem de medo do escuro; alguns homens adultos discutem calorosamente qual é a bunda mais bonita entre as empregadas, essa é a discussão mais profunda desses adultos. Porém, vocês enfrentam dragões, monstros no armário e espíritos malignos! Vocês sentem o terrível  gosto do inferno sobre as cabeças e vivem num mundo construído pela estupidez dos adultos. O Mal é real, isso é efeito da maldade e da ignorância que eles fazem com vocês. 

"Ah que saudade da aurora dos oito anos!" O idiota que escreveu isso, era um péssimo poeta e é uma pessoa que não entendeu as atrocidades do tempo. Crianças não caem na lábia dos adultos, eles não sabem o que fazem. Deus é uma criança; eles não admitem isso, preferem acreditar que é um velhote sem humor, sentado na cadeira, olhando o absurdo que é a raça humana.

Os adultos, (alguns, nem todos), já se esqueceram o que é enfrentar dragões cotidianamente, ficaram apáticos e insensíveis. Virem adultos, crianças, mas não esqueçam de enfrentar os seus dragões! Eu compreendo vocês, eu, pelos menos, acho que compreendo. Já faz anos que vou para uma festa de família e não brinco entre as crianças, fico entre os adultos e me sinto tão estúpida do que eles. Já faz anos que não concordo o que é um adulto nesse mundo de ignorância. Por isso, prefiro acreditar na infância de Deus e nos duendes para controlar o absurdo que é o nosso tempo. 

Por ora, prefiro permanecer criança entre a ignorância dos adultos! 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Telefone

- alô! Alô? Tem alguém aí no outro lado da linha? Eu só queria conversar com você. Como vai você? Pergunte pra mim também. Ok. Ok. Eu vou imaginar que tem alguém do outro lado da linha perguntando isto: "Olá, como vai você?". Vou até fazer uma outra voz: "Oi, pequena, como vai você? Me conte o seu dia"

 Ei voz invisível, aconteceu tanta coisa hoje. Cheguei em casa e coloquei aquela canção do Roberto, sabe, lembrando do tipo célebre que Ana C. descreveu num certo poema disperso. Esquecida, destemida, penso que, dessa vez, o fim é definitivo.  Ó voz invisível, já fiz de tudo para esquecer essa pessoa.

Aprendi inglês, dancei Ragatanga, desenhei, toquei "Hey Jude" no violão, fiz uma viagem para Peru, perambulei asfaltos. Aí, fui dramática, chorei demais, pensei numa cena para fazer esse tipo célebre voltar pra mim. Hoje, vou me suicidar com pílulas anticoncepcionais, deitar em cima da privada e cantar: "por isso eu sou vingativa! Vingativa! Vingativa! Vigantivaaa".

Não tem como se apaixonar e emburrecer pouco?

Pera aí! Não desligue, voz invisível, porra, eu só quero conversar com alguém, (mesmo que esse alguém não exista), não me deixe falando com o teto. Eu já disse que eu te amo. Eu te amo. Nunca falei isso pra ninguém. Nem pro tipo célebre eu disse essa frase, ao contrário, eu disse que odiava ele. Era mentira; eu nem sentia ódio e nem amor o que eu tinha era muito tesão. Pior que levar pé na bunda apaixonada, é levar pé na bunda com calcinha molhada. Fiquei puta! Puta mermo! Sabe o que fiz? Na-da. Só comi uma caixa de chocolate inteira e fui pra casa assistir Faustão. Deprimente, né!

ei, voz invisível, mas a história de suicídio é verdade, vou me matar com essa caixa de anticoncepcional e é pra já! Tô começando agora. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, dez. 30 pílulas na minha boca, vou engolir tudo com vinho barato, vou morrer assim. Aí, meus harmoniosinhos, todos revoltados querendo briga. Não adianta pedir as suas coisas de volta, não adianta, meu querido, eu estou indignada com a sua ausência. Olha só, minha cartela de anticoncepcional vazia! Eu só estou esperando o efeito da morte, tchau vida!

Não tem mesmo como se apaixonar sem se emburrecer

Você não me entende que sou essa bolha de tesão e sentimentos, eu sou essa coisa toda confusa. Você não entende, pera aí, voz invisível, não vai embora, não me deixa sozinha, eu detesto ficar sozinha, eu não sei o que fazer. Eu não consegui me matar. Poxa, a culpa é sua! Ei, eu não consigo te esquecer, me emburreço tanto.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Amigos

é um prazer conhecer cada um de vocês! 

É um prazer enorme saber qual é o rosto de tristeza que você possui. Gosto de saber que reconhecemos as mesmas piadas, temos o mesmo ritmo gestual. Fico muito grata por saber que eu sei qual é a sua comida favorita, ainda uso o seu número de telefone sem constrangimento. 

- olá, amanhã, você vai fazer alguma coisa?
- amanhã, não! Vamos beber?
- vamos sim! 

Fico contente que não concordamos com tudo, mas fico grata por saber que não é nenhum esforço permanecer ao meu lado em silêncio. Gosto de reconhecer o seu rosto de alegria, o seu rosto de excitação, o temor que você tem por conta do escuro ou seu medo infantil de altura. Sei que ainda sente medo de barata, mesmo tendo completado a maioridade. Assim, eu prometo que não vou usar esses medos contra você. 

é um prazer saber que tenho uma história com cada um de vocês. Você pode contar mais um episódio desastroso sobre mim, quando senti vontade de rir gratuitamente. Risos gratuitos são melhores do que doces desavisados. É um prazer rir com vocês, chorar com vocês, é um prazer enorme saber que o meu nome é carregado de sentido; eu não sou anônima para vocês.

é um enorme prazer reconhecer a voz de vocês ao longe e saber que estamos seguros no escuro. Saber que vocês existem. É um prazer enorme saber que vocês atravessaram os meus pensamentos, criaram passagem para os meus conceitos e destruíram meus monumentos de preconceitos. É um prazer enorme (re) conhecer cada um de vocês!