Acordei
sem vontade de escrever, mas, então, no meio da tarde, quando me bateu aquele
sentimento de nunca mais. Decidi: vou escrever uma palavra. Só uma! De repente,
dei por mim e percebi que não sabia o que era palavra.
A
palavra?
morre,
nasce, morre, nasce
Morrenascemorrenascerenascemorre
A
palavra?
Chanfra.
Choca. Chumba
A
palavra “chuá” é uma onomatopeia para representar o som da chuva.
O
som não é palavra, apesar de toda a palavra ter som. A palavra em Português não
é a mesma em Russo e nem Alemão. (O “-ão” de coração pesa mais do que corazón.
Ele – isso chamado de coração, corazón ou heart - é negro, escuro e precioso.
Parece uma pedra de tão brilhante, ora uma pétala de begônia caída, um talo
interrompido de crescer).
A
palavra não pode ser um corpo fechado. Nem um cofre. É preciso ser vista em
lugar diferente que não seja os dicionários. É preciso ser vista em vários
ângulos. É preciso de ar, de chuva e de sol. Ela precisa de música, de
silêncios e tempos. Cada palavra é como uma pessoa, algumas preferem verões,
outras invernos, mas todas são da vida. Fogem de tantos adjetivos, precisam
mais dos substantivos, precisam reconhecer mais os significados, querem um
ritmo livre.
Em
toda palavra reside um sonho. Nem sempre a gente sonha com palavras.