sexta-feira, 12 de julho de 2013

Um dedo de papo e nada mais

- Não se estranhe muito diante do espelho. O outro só responde a uma pergunta que a gente, primeiro, precisa a aprender perguntar pra gente mesmo. Por que as palavras certas nunca aparecem nos momentos mais coerentes? Acho que, naturalmente, o homem sente uma inclinação para comédia, manias de incongruências! Se eu conversasse com um terapeuta hoje, provavelmente, ele falaria conclusões óbvias que cheguei nesses dias numa conversa com um qualquer que conheci em um ônibus
- o que você anda sentindo?
- minha menstruação tá atrasada duas semanas, não tive coragem de assinar um documento que vai mudar a minha vida e, muito menos, me esqueci de dizer pras pessoas que esses dias as coisas estão com gosto muito forte. Eu estou triste.
- que documento é esse?
- não quero falar sobre isso, quero falar sobre outra coisa
(pausa longa)
- esses dias, assisti um filme sobre psicólogos, descobri que o paciente é que conduz a terapia e ele mesmo que encontra as respostas para suas feridas
- mas é claro! As pessoas guardam as respostas dentro dela, é uma questão de aprender a se ouvir
-  não tenho resposta e nem pergunta. Só ensaios de perguntas, não sei, meu amigo
- que pergunta é essa?
- é uma pergunta que tem a ver com fome
- comida?
- sim. Eu estou com fome, algo que anda matando minha vitalidade, minha existência e anda me fazendo menos humana. Tenho sido mais egoísta, sentindo mais medo, falando muito pouco e tagarelando demais. Não ando me alimentando direito
- o que você gosta de comer?
- não sei, ultimamente, não sei nem qual é o tipo de ovo que eu gosto, conheço de todos, menos o meu. Gostava de ovos com batatas, aqueles que a minha mãe sabe fazer
- é bom?
- é ótimo, é talvez a única coisa que faço e não me faz passar fome
- mas a fome não é de sexo não? Não tá necessitada não?
- transei ontem com aquele homem que eu te falei. Lembra?
- lembro sim, aquele estranho pra caralho! Vem cá, você sabe dizer por que você sente atração por pessoas diferentes de você?
- talvez, paixão e inveja estejam relacionadas, talvez, é mania de perfeição. A gente deseja aquele outro que justamente te opõe por completo, e não necessariamente vai te fazer mais satisfeita, mas
- mas te dá prazer?
- muito! E aumenta minha fome
- mas que fome é essa, minha querida?
- acho que é fome de existir, não, pera! Acho que é fome de inventar. Querido, não basta o que eu vivo, não basta, é demais, é demais. O que você acha?
- isso que você está sentindo se chama: estar vivo
- e depois?
- vai continuar vivo até morrer


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